09/04/2010

Teologia Armínio Wesleyana.




Por Fabio Alves.  Resumo do livro fundamentos da teologia Armínio Wesleyana.

Para entendermos os fundamentos dos primeiros homens da Reforma Protestante, precisamos olhar para Agostinho e os principais pontos de sua teologia.
Agostinho depois dos Apóstolos, talvez tenha sido o Cristão que maior influência teve sobre a Igreja (354-430 d.C.). Não há dúvida que sua história pessoal tenha contribuído e muito para isso. Seus talentos e inteligência eram magníficos. Sua força intelectual era extraordinária para apologética,  esteve à altura das circunstâncias de sua vida.

Com sua mente investigadora, explorou todas as tendências filosóficas de sua época e muitas correntes de pensamento o influenciaram, em um todo harmonioso. Apesar de ser um grande teólogo encontramos em seu sistema, contradições e dualismo.
Na verdade, correntes muito contraditórias de pensamento teológico surgiram dos ensinamentos de Agostinho:
· A autoridade eclesiástica, sobre o qual se alicerçou a Igreja Romana;
· A doutrina da graça, característica do Protestantismo.

A Igreja Romana seguiu os ensinamentos de Agostinho no que diz respeito à Igreja como porta de acesso a graça de Deus e a salvação eterna.
A salvação por meio dos sacramentos conduz a Dar-lhe uma exagerada ao poder e a autoridade total da Igreja, e foi o que aconteceu ao longo da história.
Agostinho se contrapôs aos ensinos da Igreja Romana ao expor o seu conceito sobre a soberania de Deus: A salvação pelo soberano decreto eterno de Deus e unicamente pela própria iniciativa divina. Esse conceito prevaleceu no Protestantismo Reformado, onde a salvação por decreto divino chegou a ser considerada a posição ortodoxa.

Foi João Calvino que de forma mais significativa aprofundou e trabalhou estas questões em sua notável obra teológica conhecida como institutas.
Ao examinar os ensinamentos deste reformador, construídos sobre a filosofia agostiniana observe que ele vai um pouco além de Agostinho, pois o raciocínio de Calvino o levou a concluir que Deus predestinou uns para salvação e outros para perdição.

Tal lógica filosófica não é de modo algum fruto de uma cuidada e detalhada exegese Bíblica, antes é fruto de estudos e tratados de teologia que apesar de defender a soberania de Deus contra a soberania da Igreja não tem uma sustentação enraizada nas Santas Escrituras.

Calvino não foi mais uniforme com sua própria teologia do que Agostinho. Embora seu sistema fosse lógico, sua pregação, exegese e teoria social, deram lugar a uma maior medida de responsabilidade humana do que aquela que estão expressas em sua teologia.

Por ser erudito João Calvino atendendo uma necessidade de seu tempo funda uma universidade em Genebra onde assume a cadeira de teologia para formação de novos obreiros. Ao falecer um de seus discípulos, Teodoro Beza, toma o lugar de seu mestre e da seqüência a uma construção teológica que nem Calvino nem Agostinho jamais defenderam.

Beza concebeu que se Deus é absolutamente soberano, e o homem se encontra tolido pelo pecado, e que, se os seres humanos são salvos ou condenados pelo decreto de Deus, por conseguinte chega-se a conclusão de que Deus induz o homem a pecar, da mesma maneira que Ele faz ou motiva os homens a serem salvos. Esta não foi uma doutrina iniciada por Calvino, mas que havia sido um elemento intrínseco escondido na totalidade da aproximação à teologia que emana de Agostinho.

 Nem  Agostinho, nem Calvino, previam tal linha teológica, muito menos tinham aprovado tal enunciado.
A lógica de Beza se reflete em sua ordem dos decretos divinos, conhecida como ponto de vista supralapsariano. Implica que o pecado, sendo necessário como instrumento dos decretos divinos para a condenação de alguns homens, também deve ter sido determinado por Deus, anteriormente aos decretos. Ou seja, Deus é o culpado pelo homem ter pecado.

Essa doutrina da predestinação extrema é conhecida como calvinismo ortodoxo.
Devem-se notar dois fatores no calvinismo de Beza.
Primeiro, ele aderiu uma sequência específica de decretos divinos. Esta sequência foi a que serviu de apoio a posição teológica extremada que ele sustentava.
Em segundo lugar, presumiu saber, a parte do ensino bíblico, qual era a ordem correta. Isto não estava de acordo com a opinião expressada por Calvino quanto ao conhecimento que o homem pode ter de Deus.

O sistema supralapsariano coloca o decreto de eleger alguns homens para salvação e reprovar a todos os demais com prioridade ao da criação humana. O infralapsarianismo outra corrente do calvinismo situa o decreto da criação dos homens antes do decreto que permite a queda, que por sua vez é seguida pelo decreto para prover a salvação.

Tiago Armínio observou que, nesses sistemas, Cristo ocupava um segundo plano, e tornava-se virtualmente desnecessário por esses decretos, não importando em que ordem aparecia. Segundo esses decretos, os homens são salvos, não pelo Senhor Jesus, mas pelo desígnio da vontade de Deus.

Beza diz que a vontade de Deus é soberana e que não cabe ao homem questiona-la. Porém podemos conhecer a vontade de Deus naquilo que Ela se revela e vamos ver que não é assim como diz Beza.
"O Cordeiro que foi imolado desde o princípio do mundo", ensinou o caminho para postular um    "de­creto", se tal palavra é conveniente, que coloque a Cris­to no mesmo centro da existência humana. Ele não é só a Palavra Criadora de Deus, mas também é o Ma­nancial do Amor divino e da graça redentora. O amor é fundamentalmente pronto a sacrificar-se; e o amor que impulsionou a criação de inteligências com o po­der de retribuir esse sentimento, foi também o amor que poderia, quereria, perdoaria e redimiria o homem ao terrível preço do sofrimento pessoal.
Porém atrás da criação estava o amor pessoal de Deus, expressado mediante a segunda Pessoa da Divindade. Isto é graça - a graça original que precedeu ao pecado original e o antecipou. A graça preveniente, termo teológico que lhe aplicamos, não é uma reflexão tardia, senão uma efusão benéfica do amor divino circundando cada pas­so da história da humanidade desde a primeira iminência de vida inteligente até o último da existên­cia  humana na história.

Uma complicação interessante e de importância se levantou com relação ao calvinismo. À medida que ia reduzindo o domínio estatal do Catolicismo Romano nos Paí­ses Baixos, o calvinismo ia ganhando terreno como poder político. As Confissões chegaram a ser uma es­pécie de constituição, debaixo da qual se concedia a qualquer grupo de cristãos o direito de existir como igreja. As Confissões declaravam a natureza pacífica do grupo, freqüentemente evitavam a perseguição e contribuíam para moderar a interferência política. Po­rém, nos Países Baixos, não era simplesmente o calvinismo, mas a interpretação que Beza  de­finia a ortodoxia religiosa em grau importante. Desafi­ar a interpretação feita por Beza sobre a doutrina de Calvino equivalia a opor-se à estrutura política e cons­tituía um delito de traição ao governo. Nesta situação confusa e complexa se introduz Armínio, que, como bom calvinista refutou a interpretação antibíblica da predestinação. Este desafio desferiu um golpe no co­ração de uma "rivalidade entre o exército holandês e o governo civil. Neste país, a religião e a política esta­vam intrincadamente entrelaçadas".

O fato desta rivalidade somente necessita ser mencionado neste breve estudo; porém, toda sua
  his­tória é essencial para uma compreensão adequada do arminianismo. Eventualmente, alguns arminianos fo­ram executados como traidores, em lugar de serem • considerados como meros oponentes à posição teológi­ca de Beza. O repúdio emotivo e ambíguo dos arminia­nos pêlos calvinistas produzido por essa confusão de interesses religiosos com os políticos se expressa nas diferenças teológicas em nossos dias. Grande parte da atitude contemporânea dos calvinistas contra os evangélicos arminianos terminaria se melhor fosse compreendida a verdadeira natureza do conflito original.

Tiago Armínio nasceu em Oudewater, Holanda, em 1560. As necessidades econômicas obrigaram sua mãe viúva a deixar o filho debaixo da tutela de outros. Foi adotado por um sacerdote católico convertido, que o enviou à escola em Utrecht. Com a morte de seu ben­feitor, o brilhante jovem foi levado à universidade lute­rana local por um professor de Marburg. Em pouco tempo, os espanhóis tomaram Oudewater e assassi­naram a maior parte de seus habitantes por negar-se a retornar ao catolicismo. Entre os mortos estavam à mãe e os irmãos de Armínio. Seu coração se encheu de amargura por tanta impiedade política, o que prova­velmente explica sua resistência à intolerância religi­osa que mais tarde teria que experimentar.

O triste e destituído jovem encontrou refúgio no lar de Pedro Bertius, pastor da Igreja Reformada em Roterdã. Ele o enviou à nova universidade de Leiden, onde se distinguiu como estudante. Finalmente, os patrocinadores da grande igreja em Amsterdã "o adotaram", assegurando-lhe a melhor educação possível a troco de sua promessa de retornar a eles como pas­tor, se assim o desejasse. Imediatamente Armínio foi enviado à Universidade de Genebra para sua prepara­ção ministerial; ali estudou teologia com Beza e ou­tros. Alguns se perguntam se Armínio chegou a acei­tar completamente a ideologia de Beza; porém, pelo menos, se familiarizou com sua "elevada posição calvi­nista"
Ao concluir sua educação em Genebra, Armínio foi nomeado pastor da Igreja de Amsterdã. Era um pre­gador brilhante, dotado exegeta bíblico, cristão humilde e consagrado. Suas mensagens expositivas lhe de­ram especial celebridade e sua oratória o fez popular, atraindo muitos ouvintes.
Em 1589, um leigo instruído, Koornheert, da Holan­da, levantou uma tormenta nos círculos teológicos por suas dissertações e escritos em refutação da teoria supralapsariana dos decretos divinos. É significativo que o tremendo descontentamento gerado com a posição de Calvino e Beza, tenha levado um leigo a fazer tal coisa. Koornheert argumentava que, se como Beza ar­gumentava, Deus causaria o pecado; então, em realidade, Ele é seu autor. A Bíblia, não ensina tal monstruosidade. Koornheert atraia um número cada vez maior de ouvintes e como polemizasse de forma tão brilhante, chegou-se a temer que seu pensamento solapasse a estrutura total do calvinismo, e mesmo a estabilidade política dos Países Baixos. Parecia que nenhum ministro era capaz de refutá-lo e, por isso, Armínio foi incumbido desta tarefa.

Para poder fazê-la, começou uma séria revisão da doutrina da predestinação, na mesma Bíblia, particu­larmente na Epístola aos Romanos. Concentrou-se no capítulo 9, baluarte calvinista de seu dogma. Porém, quanto mais se aprofundava Armínio, mais lhe con­vencia sua investigação de que o ensinamento de Pau­lo estava em oposição à classe de predestinação que Beza ensinava. Os judeus criam que eles haviam sido divinamente predestinados para serem salvos e que nada poderia mudar este ato. Eles sustentavam que Deus seria injusto se rejeitasse a qualquer judeu. A Epístola aos Romanos foi escrita precisamente para mostrar a distinção entre a histórica soberania abso­luta e as condições da salvação pessoal. Esta última sempre é pela fé, não por decretos. Nisto se apóia a justiça de Deus. Armínio nunca abandonou sua cren­ça na predestinação divina; porém, viu a posição bíbli­ca sob uma luz diferente do ensinamento de Beza. A mente erudita de Armínio se encontrava agora diante do desafio de investigar o assunto até as últi­mas conseqüências. Leu os escritos dos Pais da Igre­ja. Em uma obra mestra de investigação, compilou evi­dências demonstrando que nenhum "Pai" fidedigno havia ensinado jamais os critérios de Beza, nem a du­pla predestinação particular de Calvino jamais havia sido oficialmente aceita pela igreja. Para sua surpre­sa, descobriu que o mesmo Agostinho, não só antes da controvérsia com Pelágio, como principalmente depois, havia ensinado a completa responsabilidade moral. Jamais se realizou a refutação da "heresia" de Koorn­heert.
Como resultado deste estudo, Armínio começou a pregar uma série de sermões expositivos da Epístola aos Romanos.

Cada vez que Armínio tinha oportunidade de defender publicamente sua exposição das Escrituras, seu talento seguro e tranquilo ganhava todos os argumen­tos.  Ninguém pôde jamais lhe refutar sobre tormentosa perturbação originada na Igreja, especial­mente pelo fato de que ele mesmo poderia ter sido seu causador. Solicitou ser ouvido por uma corte pública, porém lhe foi negado, enquanto viveu. Após a sua mor­te, o Sínodo de Dort foi a resposta à sua súplica.
Depois da morte de Thiago Armínio, seus seguidores foram à audiência pública e foram chamados de Remonstrantes.

As cinco propostas dos Remonstrantes
1 Eleição condicional- sobre a base do conhecimento prévio.
2 Expiação Universal- limitada pela fé particular do homem.
3 Inabilidade natural ou depravação total- de qualquer homem de fazer o bem a parte da graça.
4 Graça preveniente- que explica tudo o que há de bom no gênero humano. Pode-se resistir a está graça e torná-la ineficaz pela perversa vontade de um pecador.
5 Perseverança condicional- ainda que Deus proveja graça suficiente para fazer frente a qualquer emergência, os homens podem negligenciar esta provisão, cair da graça e perecer eternamente.

A resposta Calvinista.
1 Eleição incondicional- ou predestinação particular
2 Expiação limitada- somente para os eleitos
3 Inabilidade natural ou depravação total – De qualquer homem de fazer o bem a parte da graça.
4 A graça irresistível- O homem a quem Deus outorga graça será salvo não pode resistir a ela.
5 Perseverança final- segurança eterna incondicional.

Ao término do Sínodo de Dort que se iniciou em 13/11/1618 e teve seu término em 9/04/1969, 102 Calvinistas holandeses ortodoxos junto com 28 delegados estrangeiros e 13 representantes Arminianos, porem presos políticos do Estado Holandês, condenados por traição por sua crença não tinham direito a voto. E ao fim foram aprovados os cinco pontos Calvinistas e as posições Arminianas foram consideradas heréticas. Até os nossos dias estes cinco pontos são defendidos pelo Calvinismo radical

Explicando as diferenças, esmiuçando posições.

1- A respeito de Deus
O calvinismo dava ênfase à doutrina da Soberania de Deus, fazendo tudo depender de Sua excelsa vontade e de Sua onipotência. Por Sua vontade criou todas as coisas para um fim determinado, realizando-as através de Seu poder absoluto. Age, por conseguinte, como Lhe apraz e só Ele conhece seus desígnios. Se a uns predestinou para a salvação e a outros negou tal privilégio, é porque julgou ser isto justo. Armínio sustentava a soberania de Deus sem cair em rigorismo. Mas não concordava com que Ele determinasse os atos dos seres livres, e nem ainda que fosse inacessível à capacidade humana, tanto que os criara à Sua imagem e Se lhes revelara de muitos modos, no passado e, afinal, completamente, na pessoa de Seu Filho Jesus Cristo. A revelação é prova de Sua boa vontade para com os homens e da capacidade receptiva deles. Urna coisa não pode ser boa porque Deus não quer que seja boa. Ê impossível ser assim, porque a justiça de Deus não permite. A predestinação, em vista disso, não pode ser ato de Deus, nem se exaltação Criador, rebaixando-Lhe a própria criação.

2- Quanto à predestinação
Como dissemos, foi o ponto da discórdia. Teodoro Beza, sucessor de Calvino, Gomarus e outros sustentavam o calvinismo extremado. Para eles, Deus manifestara a Sua glória por um decreto eterno, segundo o qual tinha em Sua misericórdia, escolhido determinado número de homens para a salvação, e deixado os restantes ao seu destino, que era a condenação. Segundo Albert Henry New, no seu livro "A Manual of Church History", Vol. II, pág. 339, são de Gomarus as seguintes expressões: "Deus considerou o homem, no decreto da reprovação, não como caído, mas antes da queda, e o próprio decreto da reprovação precedeu ao da criação".
Aí estava a predestinação incondicional, estabelecida pela vontade e sabedoria de Deus, antes, até, que os mundos e os seres fossem criados.
Arminio viu as implicações de tal doutrina. Ao invés de glorificar a Deus, rebaixava-o e empobrecia a obra redentora de Cristo. A Cruz perdia seu valor transcendental e o homem não podia responder de si mesmo, ao apelo do Salvador: "sim" ou "não". Pois segundo essa doutrina Deus já havia predestinado, por Sua vontade, os que iam salvar-se, e só estes, de fato, se salvariam. A queda e a salvação decorriam por igual do plano divino. Todos os homens cairiam em Adão. Mas aos escolhidos o Criador concederia os meios de salvação e nenhum deles seria capaz de resistir à Sua graça. Crer, perseverar na fé, e ser salvo seriam coisas para eles inevitáveis. Os demais ficariam à margem desse privilégio. Deus se tornava arbitrário e injusto. A Deus, portanto, cabia a culpa pela introdução do pecado no mundo e, também, a responsabilidade pela queda do homem.
Como conciliar tudo isso com a perfeição moral de Deus? Culpar ao homem por falta que lhe fora determinada seria injustiça, quando a justiça é um dos fundamentos da glória de Deus. Nem Ele pode, por ato arbitrário de Sua vontade, salvar ao injusto, como não pode condenar ninguém independentemente de sua fé. Deus é sempre coerente consigo mesmo.
Armínio, por essa razão, voltou-se para o infralapsarianismo. Ou, melhor, aceitou a predestinação condicional. Deus só predestinou após a queda, levando em consideração, por Sua presciência, a atitude do homem em face da tentação. Logo, a predestinação era conseqüência do ato humano e, de modo algum, o resultado de um decreto preestabelecido por Deus. E, assim, queda realçava a importância e a responsabilidade da criatura sem deixar com o Criador toda a culpa.

3- O homem no conceito de Tiago Armínio.

O supralapsarianismo glorificava a Deus, anulando o homem: mas, quando Armínio se deteve a examinar melhor o problema, concluiu, com a Escritura, que a exaltação do Criador exigia a liberdade do homem. De Suas divinas mãos saíra um ser racional, feito, espiritualmente, à Sua semelhança, e não um autômato. Dotara-o com a capacidade de escolha e opção; fê-lo responsável pela conseqüência dessa escolha; deu-lhe disposições para conhecer a Deus e gozar a vida eterna. Bênção ou maldição, e recompensa ou castigo são o fruto de suas decisões. Por isso diz a Escritura: "Aquele que quiser", "aquele que crer", "faze isto e vive", e "sê fiel e dar-te-ei a coroa da vida".
Mas, admitida a predestinação absoluta, o livre-arbítrio torna-se impossível, porque a vontade já se acha determinada em seu exercício. Qualquer ordem dada ao homem, nestas condições, é contra-senso.

4- O problema do pecado

Se o homem quisesse, poderia manter-se no estado em que Deus o criara, mesmo em face da tentação. Era livre e tinha capacidade para Lhe obedecer. Todavia, agiu noutra direção, escolhendo, conscientemente, o mal, com o que se tornou pecador e, por isso, é responsável por sua falta. Só assim, realmente, o pecado é possível porque é desobediência voluntária. Daí a posição, claramente agostiniana, de Armínio, nesse sentido, quando fez suas as palavras do Bispo de Hipona: "pecado é de tal modo um mal voluntário, que não pode ser de forma alguma pecado até que seja voluntário'.
Se, porém, a queda estava predeterminada, e forçosamente se cumpriria, o pecado deixa de existir, pois não houve livre escolha. O homem agiu sob o impulso de uma força irresistível, que no caso era a vontade soberana de
Tiago Armínio, o ilustre teólogo de Amsterdã também esposava a idéia de um decreto divino, mas o concebia de maneira muito diversa dos calvinistas. Era um "decreto gracioso". Por ele Deus resolvera, desde a eternidade, enviar ao mundo Seu Filho na qualidade de Salvador. Todos Deus. Não pecara, de fato, por si mesmo. A culpa recaia sobre Deus.
Armínio estava longe de concordar com estas conclusões. Para ele o homem era responsável também pela transgressão, e o pecado, um fato irrelutavelmente real. Porque o homem era livre, pecara e, como pecador, merecia o castigo de sua má escolha. Deus podia chamá-lo às contas. Ninguém Lhe pode imputar suas próprias faltas. Cada um é senhor de seu destino. Aquele que se perde, perde-se por culpa sua.
O arminianismo, enaltecendo o valor do homem sem diminuir o caráter de Deus, deu, então, à obra divina um cunho ético e Bíblico de que se ressentia o calvinismo.

5- O decreto eterno de Deus

Quantos cressem nEle e aceitassem Sua obra redentora, seriam justificados e salvos, mas quantos permanecessem voluntariamente em seus delitos e pecados, seriam condenados. Sua vontade, por conseguinte, era que todos cressem e fossem salvos. Por Sua culpa ninguém se perderia. Era a promessa do evangelho.
Para Armínio, o homem salvava-se não porque tivesse sido eleito, e sim ao contrário. Por aceitar a Cristo como Salvador é que se tornava eleito. A eleição decorre da identificação do pecador redimido com a obra do Filho eterno de Deus.
Deus, em Sua misericórdia, já providenciou tudo que se fazia mister à salvação dos pecadores. E mais: pô-la ao alcance de quantos a quiserem. Resta, somente, a cada um, entrar na arca que Ele preparou. Se o homem quer, Deus o salva. Nem só o homem, e nem Deus só. São os dois cooperando para o mesmo fim. Todavia os arminianos, com exceção dos Metodistas, parecem dar precedência à ação humana, com o que tendiam para o pelagianismo. O homem caminha para Deus e Deus vem ao seu encontro.

6- A obra de Cristo

Tiago Armínio insistia em que a vida eterna se oferecia a todos os homens mediante a obra expiatória de Jesus Cristo. Ou melhor: a salvação era universal, porque Seu sacrifício fora de extensa amplitude. O Filho de Deus morrera por todos os homens. Seu sangue basta e é suficiente para redimir toda a humanidade. Nele havia suprimento para todos os pecadores. A mais abjeta criatura tinha a sua salvação garantida através do Verbo divino, desde que se voltasse para Ele e O aceitasse de coração. Jesus jamais se recusaria a receber ao pecador arrependido.
Já, de igual modo, se não podia afirmar tal quanto à doutrina calvinista. Por ela, Cristo viera salvar aos que Deus de antemão escolhera para isso. Seu sangue beneficiava a esses somente. Aos reprovados o sacrifício não aproveitava. A obra expiatória limitava-se, por conseguinte, a um grupo apenas: os predestinados (para a salvação). Mas, segundo a posição arminiana, a possibilidade da salvação existe para todos e não depende de determinação (escolha) divina. A vontade humana é fator "sine qua non": Cristo redime aos que O aceitam como Salvador. Isto é: salva aos que queiram ser salvos.
Armínio julgava a obra de Cristo, como admitida pelos calvinistas, um ato horrível da parte de Deus. Sim, porque tendo decretado a salvação de alguns, estes de qualquer modo seriam salvos, sem haver necessidade do sacrifício de Seu próprio filho. Além disso seria prova de maldade, porque, podendo salvar a todos, não o quis. João Wesley, o fundador do Metodismo, diria, séculos depois, que tal atitude fazia a Deus pior que o diabo.

7- O lugar da graça de Deus na salvação do homem.

Ainda que o arminianismo realce o valor humano, não devemos confundir seu ponto de vista com o do pelagianismo, pois ambos se distinguem não só quanto ao conceito do homem, mas, também, quanto ao do pecado e da graça divina.
Pelágio ensinava que o pecado de Adão somente afetara a este, nascendo- lhe os filhos e, de igual modo, todos os demais descendentes, com idênticas possibilidades às que ele tivera antes de cair. A sua falta consistia, apenas, em mau exemplo para as gerações seguintes.
Ninguém, portanto, nasce pecador, sendo verídico dizer-se que todos trazem consigo o dom da graça, ou seja: os meios inatos para atingir a salvação, caso se faça preciso. Aquele que cair, poderá reerguer-se por si mesmo. Deus já colocou à disposição de cada um os recursos para tanto. Pelágio, porém, concebia esses meios como disposições individuais e externas e não como auxilio pessoal de Deus, através do seu Espírito. Por exemplo: a leitura dos Evangelhos, a imitação do procedimento de Nosso Senhor, etc.
Armínio aproximava-se mais de Agostinho e, em muitos pontos, era Agostiniano, de fato. Não aceitava fosse o pecado de Adão só de conseqüência individual, pois afetara a natureza humana e envolvera toda a raça. Todos caíram em Adão. Agora, só pela graça de Deus pode o homem regenerar-se e obter a salvação. Sem ela tudo é impossível ao pecador. "Sem mim nada podeis", dissera bem Jesus. Todavia, Armínio discordava tanto de Agostinho como de Calvino, quando negava ter o homem ficado reduzido pelo pecado à inatividade. Houve algo que o homem não perdeu. Ainda lhe resta a capacidade de responder à graça de Deus e aceitá-la ou recusá-la. Noutras palavras: ainda possui liberdade e volição e, assim, é responsável por suas decisões. O homem ainda pode dizer "sim" ou "não" ao seu Criador.
Para Tiago Armínio a graça de Deus é a ação operante do Espírito divino junto ao homem. É dom gratuito e, como tal, não depende de qualquer mérito do homem. Deus a reparte a todos os Seus filhos. Admitia, contudo, que, excepcionalmente, alguém poderia deixar de recebê-la. Entretanto, nenhuma pessoa é forçada a aceitá-la.
A graça celestial pode, sim, ser recusada pelo homem, segundo as seguintes passagens bíblicas: "E estais esquecidos da exortação que, como a filhos, discorre convosco: Filho meu, não menosprezes a correção que vem do Senhor, nem desmaies quando por ele és reprovado" (Hb. 12:5), e em Mt 23:37 as significativas expressões do lamento de Cristo sobre Jerusalém: "Jerusalém, Jerusalém! que matas os profetas e apedrejas os que te foram enviados! quantas vezes quis eu reunir os teus filhos, como a galinha ajunta os seus pintinhos debaixo das asas, e vós não o quisestes!" Em Lc 7:30, lê-se: "Mas os fariseus e os intérpretes da lei rejeitaram, quanto a si mesmos, o desígnio de Deus, não tendo sido batizados por ele".
No conceito de Armínio a graça pode também ser resistida, conforme a defesa de Estevão perante o Sinédrio: "Homens de dura cerviz e incircuncisos de coração e de ouvidos, vós sempre resistis ao Espírito Santo: assim como fizeram vossos pais, também vós o fazeis" (At 7:51). Igualmente, a graça de Deus pode ser recebida em vão, nos dizeres de Paulo: "E nós, na qualidade de cooperadores com ele, também vos exortamos a que não recebais em vão a graça de Deus" (2Co6:1).
Se o pecador concorda em receber o auxílio divino, Deus o coloca em nova condição. Novas perspectivas se descortinarão à sua frente. O caminho da glória eterna se abrirá perante seus olhos. Mas é apenas o caminho. A glória só se encontra no término. Importa, pois, palmilhá-lo até ao fim. O homem tem que se mover e pisar, às vezes, cardos e pedregulhos ferinos. Sobrevir-lhe-ão tristezas e seduções. Porém, sempre que deseje prosseguir, sentirá que não se encontra sozinho: Jesus, o Salvador compassivo, caminha a seu lado e lhe revigora as forças. Jesus nunca desampara aos que se acolherem à Sua sombra amiga. Se quiserem vencer, jamais lhes faltará o auxílio de Deus, através do Seu Filho.
E, deste modo, já entramos na doutrina da perseverança cristã.

8- A perseverança mista

Definamo-la, para melhor a compreendermos. Entende-se, por essa doutrina, que o crente em Jesus, uma vez regenerado, jamais cairá da graça divina, vindo a perder-se de novo. A assistência de Deus é de tal modo eficiente que ele será mantido no caminho e salvo por fim. Nada o arrebatará de Suas mãos. Conforme Jo 10:27-29; Rm 11:29; 2Tm 1:12; 2Tm 4:18 e outras passagens. Era o ponto de vista dos supralapsarianos e o é, ainda, sobretudo, das igrejas Reformadas ou calvinistas.
É interessante que Agostinho, sendo predestinista, esposou idéia bem contrária, admitindo que até o eleito podia cair e ser condenado. Os Arminíanos, Luteranos, Quaquers, Metodistas e outros adotam mais ou menos esta última posição. Todos concordam em que a perseverança não depende exclusivamente de Deus. O crente necessita fazer a sua parte, porque a divina o será sempre. E a base se encontra em textos, como Mt 24:12-13: "E por se multiplicar a iniqüidade, o amor de muitos se esfriará. Aquele, porém, que perseverar até o fim, esse será salvo". Em Cl 1:23 está dito: "Se é que permaneceis na fé, alicerçados e firmes, não vos deixando afastar da esperança do evangelho que ouvistes, e que foi pregada a toda criatura debaixo do céu, e do qual eu, Paulo, me tornei ministro". Dando conselhos a Timóteo, Paulo diz: "E tu, ó Timóteo, guarda o que te foi confiado, evitando os falatórios inúteis e profanos, e as contradições do saber, como falsamente lhe chamam, pois alguns professando-o, se desviaram da fé". (1Tm 6:20-21). Outras passagens que se devem examinar encontram-se em Rm 9:6: 2Tm 2:17-18; 2Tm 4:10; 2Pd 2:1-2; Hb 2:1; Hb 3:14: Hb 6:4 a 6, e vs. 11; 1Jo2:6,9 e 19; e Ap3:1 a 3.
Armínio parece ter sido mais consistente que os seus seguidores, visto que eles deram maior ênfase à vontade e aos esforços do homem, com o que tendiam para o pelagianismo. Foram, por conseguinte, ainda mais liberais do que o mestre.
Tiago Armínio nunca sistematizou suas doutrinas. Expô-las segundo as circunstâncias e só com vistas a determinadas questões e pessoas. Jamais pensou, certamente, em escrever uma obra de Teologia Sistemática, e doutrinas houve conhecidas agora como arminianas, em que nem sequer pensara. Isso foi obra de seus discípulos, alguns dos quais figuram entre os mais notáveis pensadores dos Países-Baixos, podendo enquadrar-se ao lado dos maiores teólogos da Igreja.

A controvérsia Calvinista nos círculos Wesleyanos

João Wesley precisou enfrentar o problema Calvinista no seio das nascentes Sociedades Metodistas. Fazia parte delas pessoas de todas as partes: Episcopais, Moravianos, Independentes leigos, Presbiterianos e Anglicanos além de muitos outros agrupamentos menores.
Para Wesley, “a graça é livre em tudo e livre para todos”, o que significa dizer que é distribuída gratuitamente por Deus a cada pessoa. Não depende de méritos humanos e nem se particulariza para alguns.
Wesley ensinou que a plena salvação é perfeição de amor e obediência. Uma é estática, a outra é dinâmica, em que a fé resulta em fidelidade e obras de amor. A fé não é o fim, mas o meio para chegar ao fim para restaurar o homem ao amor de Deus derramado e escrito em seu coração.
A fé não é a causa da salvação, mas a condição para recebê-la. Nossa fé não nos salva; porém somos salvos somente por Cristo em quem temos fé.
Sua elevada noção do processo de santificação e do homem inteiramente santificado nos revelou uma das mais belas paginas do cristianismo onde a igreja pode retornar ao seu primeiro amor. As idéias de Armínio encontram perfeita harmonia com a doutrina wesleyana que é sua continuação e evolução rumo ao cristianismo militante e prático que tem no amor a Deus e ao próximo sua marca fundamental.


6 comentários:

Ev. Flauber Menezes disse...

Bem esclarecedor!

Arnaldo Ribeiro disse...

(Gênesis – 2.3)
E ABENÇOOU DEUS O DIA SETIMO, E O SANTIFICOU; PORQUE NELE DESCANSOU DE TODA A OBRA QUE, COMO CRIADOR, FIZERA:
(Recomposição das 86 letras e dos 6 sinas acima)
SOU O ESPÍRITO QUE DESCEU DO CÉU CRIANDO A SUA FÉ; E FAÇO SANTO, O QUE É BATIZADO COM NOME DE ARNALDO
RIBEIRO:
(Lucas – 12.49/50)

Anônimo disse...

Muito bom Fábio Alves um belíssimo comentário, sou Teólogo e adoro esse tipo de comentário a respeito de Armínio e Calvino, muito legal...
Agora esse Arnaldo Ribeiro só faz comentario chato que besterou, não tem nada a ver, esse cara é da lua??? pede p/ ele não postar mas ele é um pé no saco...
Termino dizendo vc é 10! Valeuuuuuu

Fabio Alves Monteiro disse...

Eu não conheço esse cara, ele é ligado a nova era, esse arnaldo não diz coisa com coisa mesmo.

Anônimo disse...

Sou bacharelando em teologia da IASD e achei esse comentário muito bom gostei bastante.

Unknown disse...

o problema de Arminio e Calvino é q n sabiam quem foi Adão

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