30/06/2011

O Metodismo no século XVIII.



Por Fabio Alves (resenha do livro Wesley)



Falar de João Wesley significa falar da Inglaterra do século XVIII e falar da Inglaterra neste período significa falar do império colonial que vai se constituindo e se consolidando neste momento por causa do processo da Revolução Industrial, que está em curso.

Este período histórico traz mudanças profundas na vida dos cidadãos ingleses. O setor de ponta é a indústria têxtil de lã. A lã é um produto encontrado com abundância na própria Inglaterra e é só mais tarde  que nasceria a indústria têxtil de algodão para finalmente ocorrer a própria industrialização dos meios de produção.


Por conta do processo de industrialização, os campos ingleses deixam de produzir alimentos e são ocupados pelos rebanhos de ovelhas que necessitam de um contingente pequeno de trabalhadores. Sem espaço no campo, as massas de camponeses ocupam as cidades pois os campos vivem  um processo de concentração fundiária e o êxodo rural se torna uma realidade. Sem saída as famílias expulsas das terras torna-se assim parte do proletariado nascente.

O sistema econômico não tem como absorver toda a mão de obra, e a solução encontrada pela elite inglesa vem através de uma legislação rígida e severa para os de baixo. Um simples roubo é punido com a pena de morte.

É importante lembrar que a Inglaterra passa a ocupar nesse momento no cenário mundial um papel determinante. O acordo com o governo de Portugal vai garantir o processo de industrialização e o monopólio no cenário de escravos traz lucros fantásticos aos burgos ingleses.

Os ingleses não se relacionavam diretamente com a África, a América e a Ásia. Eles faziam isso através dos Portugueses e Espanhóis. Seus produtos de lã não são para clima quente e a  indústria inglesa tem um forte concorrente: a Índia, que fornece o tecido de algodão a um preço melhor do que a lã inglesa, que só é apropriada para clima frio.

Vendo-se acuada, a elite inglesa através do seu governo invade e conquista o território da Índia. Isso só é possível graças a uma invenção moderna, que são os canhões sobre rodas. Com a conquista da Índia, os ingleses se tornam os único a fabricar tecidos, pois eles destroem toda a indústria local.
Qual o impacto que isso tem na Inglaterra? Há um auge na produção inglesa e na exportação ao mesmo tempo que um empobrecimento da população. Os salários são baixos, pois os lucros vem de fora, do mercado externo e o tecido de algodão é muito mais barato do que o de lã.

Nesse momento, tanto os novos proletários, quanto a população em geral incham as cidades sem muita esperança. A população inglesa é a primeira a enfrentar um processo que implica na transformação das regras do jogo social, da inter-relação social, por transformações radicais das estruturas econômicas, sociais e políticas.

O metodismo teria contribuído de alguma forma para integrar os indivíduos, a massa proletária a esse novo modo de vida. Não se trata de adaptação ao capitalismo, mas a um sistema disciplinado de viver e a necessidade(frente a impressão de inevitabilidade do processo) de dar-lhe um sentido profundo onde é obrigado a ser e interiorizar uma relação com o sistema.

O metodismo teria integrado as pessoas a esse sistema disciplinado de viver, típico da sociedade industrial, antes as populações de camponeses exerciam seu trabalho na dependência do tempo das condições da terra mais agora teria de bater o ponto na fabrica com hora de chegar e sair, uma forma de produção sistemática e mecânica como podemos observar no filme de Charles Chaplin.
Mas, o metodismo foi além. A igreja oficial dá pouca atenção aos pobres e a mesma era lenta ao dar respostas as questões dos pobres. O metodismo aproxima-se dessa massa e vai ao encontro de seus anseios.

John Wesley se mostra preocupado com a questão da pobreza em seu escrito “Pensamentos sobre a falta atual de alimentos”, que foi escrito em 1733. Wesley descreve com muito realismo a situação do povo, de pessoas que estão morrendo de fome, de pessoas que estão disputando osso com cachorro para fazer uma sopa.

Wesley condena o luxo, o desperdício das classes dominantes, os impostos elevados, a dívida nacional, o problema do desemprego, a imoral escravidão.
Quais foram as influências de Wesley? A Bíblia é a fonte básica e o leme que John Wesley utilizava. Wesley é um homem que reflete sua fé e quem busca respostas faz teologia. John Wesley faz isso. Essa é a Inglaterra que Wesley vive e pratica seu amor ao próximo e intervem de forma decisiva em favor dos mais fracos.

John Wesley é visto como evangelista, administrador, pastor, organizador, líder, grande pregador, avivalista, polemista, apóstolo, reformador, peregrino, educador e mestre e finalmente, teólogo. Mas, quando se trata de ver Wesley  como teólogo a questão fica complicada, pois John Wesley reúne em torno de si uma série  de correntes.

Em primeiro lugar John Wesley concorda com a tradição protestante e diz somente a escritura, pois ela é a fonte Constante de autoridade religiosa.  Uma outra fonte é a razão, pois diz que toda religião sem razão é falsa. Outra fonte que Wesley aponta é a experiência e aqui, uma influência Pietista. Essas três ênfases, sempre aparecem juntas: a bíblia, a razão e a experiência. E a outra fonte que ele aponta com menos insistência é a tradição, que poderia ser traduzida como a experiência acumulativa.

A contribuição teológica de Wesley se encontra exatamente nessa abertura para o ambiente cultural; filosófico; da sua época. A amplitude de fontes nos leva a considerar a identidade metodista que não pode ser compreendida de maneira estática, e sim dinâmica.

John Wesley reafirma a importância do quadrilátero e hoje em seu contexto contemporâneo esses critérios e instrumentos hermenêuticos vem ganhando amplitude. O estudo crítico e histórico da escritura, a razão critica e dialética, a experiência dinâmica e prática e a tradição com respeito à liberdade darão respostas atuais a muitas questões sociais de nossos dias, como por exemplo a questão ecológica.

Sobre sua vida, John é filho de pastor anglicano, estuda em Oxford, constrói o Clube Santo, e suas atividades só são interrompidas por causa de uma viagem à América que termina frustrada. Ao voltar, Wesley chega ao ápice de seus conflitos existenciais, e então por influência dos Pietistas, vive uma experiência sobrenatural, a qual e ele fala que estranhamente sentiu seu coração abrasado.

Três experiências são fundamentais para a formação do caráter dos metodistas. A primeira, a do clube santo e a busca pela santidade ou perfeição cristã, a segunda a do coração abrasado, de influência Pietista, e  a terceira, sua amizade com Jorge Witifield, onde o mesmo convence Wesley a pregar ao ar livre.

Assim se inicia a construção do movimento metodista. Existem outros momentos, mas esses três são os que constituem de mística metodista.

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