04/08/2015

Arminianismo!




Por Roger Olson é um teólogo Arminiano de persuasão evangélica Batista.

O arminianismo é um tipo de teologia cristã principalmente associada a Jacó Armínio (m. 1609), teólogo holandês do século XVII. Todavia, também me refiro ao arminianismo clássico como “sinergismo evangélico” (sinergismo aqui se referindo à cooperação entre Deus e criatura), pois as crenças de Armínio não se iniciaram com ele. Por exemplo, o teólogo anabatista Balthasar Hubmaier promoveu uma visão muito semelhante, quase um século antes de Armínio. Em suma, o arminianismo clássico é a crença de que Deus genu­inamente quer que todas as pessoas sejam salvas e que enviou Cristo para viver, morrer e ressuscitar igualmente para todos. É a crença de que Deus não salva as pessoas sem o livre-consentimento delas, mas que as concede graça preveniente (graça que vem antes e prepara) para liberar suas vontades da escravidão do pecado e torná-las livres para ouvir, entender e responder à chamada do evangelho. É a crença de que a graça de Deus é sempre resistível, e a eleição para salvação — predestinação — é condicional: Deus decreta que todos os que creem serão salvos e conhece de antemão os que crerão. O armin­ianismo clássico é uma forma de teologia protestante, portanto, ela já pressupõe (em todas as questões acima) que a salvação é um dom gratuito da graça de Deus que não pode ser merecido; ele só pode ser aceito. De acordo com Armínio e todos os arminianos clássicos, a justifi­cação e Deus dos pecadores é “pela graça mediante a fé somente” e apenas por conta da obra de Cristo.

 A graça de Deus em e através de Jesus é a causa eficaz da salvação/justificação, mas a fé é a causa instrumental. João Wesley, o fundador do metodismo, foi um arminiano assim como  os  seus segui­dores. O metodismo, em todas as suas formas (incluindo as que levam seu nome), tende a ser arminiano. (Igrejas metodistas calvinistas já existiram. Elas foram fundadas por seguidores de George Whitefield, coevangelista de Wesley. Mas, até onde posso dizer, todas essas igrejas fecharam ou se uniram a denominações tradicionalmente calvinistas). Denominações oficialmente arminianas incluem aquelas inseridas no que é chamado de movi­mento de “Santidade” (ex. Igreja do Nazareno) e na tradição pentecostal (ex. Assembleias de Deus). O armin­ianismo também é a crença comum dos Batistas Livres (também conhecidos como Batistas Gerais). Muitas “Igrejas dos Irmãos” (Bethren) também são arminianas. Mas se pode encontrar arminianos em muitas denomi­nações que não são histórica e oficialmente arminianas, tais como muitas convenções/conferências batistas.
Os arminianos não veneram Armínio; ele não foi nada mais do que um expositor especialmente claro e defensor de uma perspectiva bíblica da salvação. Os arminianos apenas utilizam esse rótulo para que possam se distinguir dos calvinistas e dos luteranos −− duas tradições protes­tantes que histórica e teologicamente defendem o que é conhecido como “monergismo” e rejeitam todas as formas de sinergismo na salvação. (Monergismo é a crença de que a salvação não envolve uma cooperação entre Deus e o pecador; Deus salva sem o livre consentimento do pecador). Os arminianos não se importam com o rótulo “arminianismo”. Muitos sequer o utilizam. Todavia, ele é uma categoria e um rótulo teológico frequentemente mal interpretado por seus críticos (principalmente calvinistas conservadores), então aqueles que sabem que são arminianos sentem a necessidade de defender o arminianismo contra falsas acusações e distorções. Existem alguns que preferem se autodenominar de “não calvinistas”, mas essa não é uma opção melhor que “arminiano”, e é menos clara (pois os luteranos, por exemplo, também são “não calvinistas”, mas eles frequen­temente são tão contrários à crença arminiana no sinergismo evangélico quanto o são os calvinistas). Os arminianos não são um movimento, nem um partido, ou nem uma tribo de cristãos. Eles são simplesmente cristãos protestantes que, diferente de muitos outros, acreditam na liberdade da vontade restaurada pela graça para resistir ou aceitar a graça salvífica. Começando por volta de 1990, o arminianismo e a teologia arminiana vieram a sofrer nova pressão dos francos proponentes do calvinismo — a crença de que Deus elege pessoas para a salvação incondicionalmente, de que Cristo morreu apenas para os eleitos, e de que a graça salvadora é irresistível. Esses novos e agressivos calvinistas não estavam dispostos a assumir uma postura de “viva e deixe viver” em relação às diferenças evan­gélicas na teologia, mas tentaram marginalizar, e às vezes até mesmo excluir, os arminianos do evangelicalismo — retratando o arminianismo como sendo mais católico do que protestante. Um proeminente teólogo calvin­ista, editor de uma revista mensal, disse por escrito que ser “evangélico arminiano” é tão impossível quanto ser “católico evangélico”. Durante o período dos últimos vinte a trinta anos o calvinismo está em ascensão, prin­cipalmente no cristianismo evangélico estadunidense. Juntamente com esse aumento se seguiu também o retrato crescentemente negativo dos arminianos como cristãos imperfeitos, que não são verdadeira e autenti­camente evangélicos. O evangelicalismo estadunidense por muito tempo havia sido ecumênico — incluindo cristãos protestantes de muitas perspectivas teológicas. De repente, muitos calvinistas/reformados evangélicos estavam chamando o arminianismo de “humanista”, “centrado no homem”, “heterodoxo”, “à beira do precipício da heresia”, “não honrando a Bíblia”, etc. Gradualmente, os arminianos evangélicos sentiram a necessidade de defender sua teologia contra equívocos, más represen­tações e distorções. Todas as teologias são “feitas por homem”, inclusive o calvinismo. Mas isso não quer dizer que as teologias são unicamente invenções humanas. Elas são as melhores tentativas humanas de interpretar a Bíblia sob a orientação do Espírito Santo, da tradição cristã, e da razão. Muitos calvinistas reivindicam que o calvinismo é uma “transcrição do evangelho”, mas os arminianos rejeitam essa reivindicação para qualquer teologia, incluindo o calvinismo e o arminianismo. Nós (teólogos, intérpretes da Bíblia) somos nada além de “vasos quebrados” (conforme o apóstolo Paulo denom­inou a si mesmo) procurando seguir a luz da Palavra de Deus aonde ela nos guiar. Nem todos arminianos são wesleyanos. Certamente Armínio não foi! Ele viveu um século antes de Wesley. Os Batistas Livres, muitos pentecostais (ex. Assembleias de Deus), e restauracionistas (ex. Igrejas de Cristo e Cristãos Independentes) são arminianos sem ser wesley­anos. Mas todos os wesleyanos (que eu conheço) são arminianos.  Os wesleyanos acrescentam ao arminianismo a ideia de “perfeição cristã”. Os arminianos não wesleyanos não acreditam na “plena santificação”. (Embora, curio­samente, meu estudo pessoal sobre Armínio me levou a pensar que ele talvez concordasse com Wesley.  O arminianismo foca no pecado e salvação. Ele diz (em relação ao livre-arbítrio) que as vontades dos pecadores estão presas ao pecado até que libertadas pela graça preveniente de Deus (conse­quentemente, “arbítrio liberto” e não “livre-arbítrio”!).
Deus é soberano sobre Sua soberania. Em outras palavras, Deus pode (e aparentemente o faz) limitar Seu poder para permitir que os humanos se oponham à Sua vontade — até certo ponto. Tudo o que acontece (diz o arminianismo) está dentro da vontade soberana de Deus — quer a vontade antecedente de Deus ou a vontade consequente de Deus. A vontade antecedente de Deus é que todos sejam salvos; a vontade consequente de Deus (após a Queda) é que todos os que creem sejam salvos.


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