Por Roger Olson é um teólogo Arminiano de persuasão evangélica Batista.
O
arminianismo é um tipo de teologia cristã principalmente associada a Jacó
Armínio (m. 1609), teólogo holandês do século XVII. Todavia, também me refiro
ao arminianismo clássico como “sinergismo evangélico” (sinergismo aqui se
referindo à cooperação entre Deus e criatura), pois as crenças de Armínio não
se iniciaram com ele. Por exemplo, o teólogo anabatista Balthasar Hubmaier
promoveu uma visão muito semelhante, quase um século antes de Armínio. Em suma,
o arminianismo clássico é a crença de que Deus genuinamente quer que todas as
pessoas sejam salvas e que enviou Cristo para viver, morrer e ressuscitar
igualmente para todos. É a crença de que Deus não salva as pessoas sem o
livre-consentimento delas, mas que as concede graça preveniente (graça que vem
antes e prepara) para liberar suas vontades da escravidão do pecado e torná-las
livres para ouvir, entender e responder à chamada do evangelho. É a crença de
que a graça de Deus é sempre resistível, e a eleição para salvação —
predestinação — é condicional: Deus decreta que todos os que creem serão salvos
e conhece de antemão os que crerão. O arminianismo clássico é uma forma de
teologia protestante, portanto, ela já pressupõe (em todas as questões acima)
que a salvação é um dom gratuito da graça de Deus que não pode ser merecido;
ele só pode ser aceito. De acordo com Armínio e todos os arminianos clássicos,
a justificação e Deus dos pecadores é “pela graça mediante a fé somente” e
apenas por conta da obra de Cristo.
A graça de Deus em e através de Jesus é a causa
eficaz da salvação/justificação, mas a fé é a causa instrumental. João Wesley,
o fundador do metodismo, foi um arminiano assim como os seus seguidores. O metodismo, em todas as
suas formas (incluindo as que levam seu nome), tende a ser arminiano. (Igrejas metodistas calvinistas já existiram. Elas foram fundadas por seguidores de
George Whitefield, coevangelista de Wesley. Mas, até onde posso dizer, todas
essas igrejas fecharam ou se uniram a denominações tradicionalmente calvinistas). Denominações oficialmente
arminianas incluem aquelas inseridas no que é chamado de movimento de
“Santidade” (ex. Igreja do Nazareno) e na tradição pentecostal (ex. Assembleias
de Deus). O arminianismo também é a crença comum dos Batistas Livres (também
conhecidos como Batistas Gerais). Muitas “Igrejas dos Irmãos” (Bethren) também
são arminianas. Mas se pode encontrar arminianos em muitas denominações que
não são histórica e oficialmente arminianas, tais como muitas
convenções/conferências batistas.
Os
arminianos não veneram Armínio; ele não foi nada mais do que um expositor
especialmente claro e defensor de uma perspectiva bíblica da salvação. Os
arminianos apenas utilizam esse rótulo para que possam se distinguir dos
calvinistas e dos luteranos −− duas tradições protestantes que histórica e
teologicamente defendem o que é conhecido como “monergismo” e rejeitam todas as
formas de sinergismo na salvação. (Monergismo é a crença de que a salvação não
envolve uma cooperação entre Deus e o pecador; Deus salva sem o livre
consentimento do pecador). Os arminianos não se importam com o rótulo
“arminianismo”. Muitos sequer o utilizam. Todavia, ele é uma categoria e um
rótulo teológico frequentemente mal interpretado por seus críticos
(principalmente calvinistas conservadores), então aqueles que sabem que são
arminianos sentem a necessidade de defender o arminianismo contra falsas
acusações e distorções. Existem alguns que preferem se autodenominar de “não
calvinistas”, mas essa não é uma opção melhor que “arminiano”, e é menos clara
(pois os luteranos, por exemplo, também são “não calvinistas”, mas eles frequentemente
são tão contrários à crença arminiana no sinergismo evangélico quanto o são os
calvinistas). Os arminianos não são um movimento, nem um partido, ou nem uma
tribo de cristãos. Eles são simplesmente cristãos protestantes que, diferente
de muitos outros, acreditam na liberdade da vontade restaurada pela graça para
resistir ou aceitar a graça salvífica. Começando por volta de 1990, o
arminianismo e a teologia arminiana vieram a sofrer nova pressão dos francos
proponentes do calvinismo — a crença de que Deus
elege pessoas para a salvação incondicionalmente, de que Cristo morreu apenas
para os eleitos, e de que a graça salvadora é irresistível. Esses novos e
agressivos calvinistas não estavam dispostos a assumir uma postura de “viva e
deixe viver” em relação às diferenças evangélicas na teologia, mas tentaram
marginalizar, e às vezes até mesmo excluir, os arminianos do evangelicalismo —
retratando o arminianismo como sendo mais católico do que protestante. Um
proeminente teólogo calvinista, editor de uma revista mensal, disse por
escrito que ser “evangélico arminiano” é tão impossível quanto ser “católico
evangélico”. Durante o período dos últimos vinte a trinta anos o calvinismo
está em ascensão, principalmente no cristianismo evangélico estadunidense.
Juntamente com esse aumento se seguiu também o retrato crescentemente negativo
dos arminianos como cristãos imperfeitos, que não são verdadeira e autenticamente
evangélicos. O evangelicalismo estadunidense por muito tempo havia sido
ecumênico — incluindo cristãos protestantes de muitas perspectivas teológicas.
De repente, muitos calvinistas/reformados evangélicos estavam chamando o
arminianismo de “humanista”, “centrado no homem”, “heterodoxo”, “à beira do
precipício da heresia”, “não honrando a Bíblia”, etc. Gradualmente, os
arminianos evangélicos sentiram a necessidade de defender sua teologia contra
equívocos, más representações e distorções. Todas as teologias são “feitas por
homem”, inclusive o calvinismo. Mas isso não quer dizer que as teologias são
unicamente invenções humanas. Elas são as melhores tentativas humanas de
interpretar a Bíblia sob a orientação do Espírito Santo, da tradição cristã, e
da razão. Muitos calvinistas reivindicam que o calvinismo é uma “transcrição do
evangelho”, mas os arminianos rejeitam essa reivindicação para qualquer
teologia, incluindo o calvinismo e o arminianismo. Nós (teólogos, intérpretes
da Bíblia) somos nada além de “vasos quebrados” (conforme o apóstolo Paulo
denominou a si mesmo) procurando seguir a luz da Palavra de Deus aonde ela nos
guiar. Nem todos arminianos são wesleyanos. Certamente Armínio não foi! Ele
viveu um século antes de Wesley. Os Batistas Livres, muitos pentecostais (ex.
Assembleias de Deus), e restauracionistas (ex. Igrejas de Cristo e Cristãos
Independentes) são arminianos sem ser wesleyanos. Mas todos os wesleyanos (que
eu conheço) são arminianos. Os
wesleyanos acrescentam ao arminianismo a ideia de “perfeição cristã”. Os
arminianos não wesleyanos não acreditam na “plena santificação”. (Embora, curiosamente,
meu estudo pessoal sobre Armínio me levou a pensar que ele talvez concordasse
com Wesley. O arminianismo foca no
pecado e salvação. Ele diz (em relação ao livre-arbítrio) que as vontades dos
pecadores estão presas ao pecado até que libertadas pela graça preveniente de
Deus (consequentemente, “arbítrio liberto” e não “livre-arbítrio”!).
Deus é
soberano sobre Sua soberania. Em outras palavras, Deus pode (e aparentemente o
faz) limitar Seu poder para permitir que os humanos se oponham à Sua vontade —
até certo ponto. Tudo o que acontece (diz o arminianismo) está dentro da
vontade soberana de Deus — quer a vontade antecedente de Deus ou a vontade
consequente de Deus. A vontade antecedente de Deus é que todos sejam salvos; a
vontade consequente de Deus (após a Queda) é que todos os que creem sejam
salvos.
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