07/07/2021

Jesus (Amor que se doa)


Por Nicholas Thomas Wright
 ( Pastor Anglicano e prof. de Novo Testamento e cristianismo primitivo na Universidade de St. Andrews) 

 Os ecos múltiplos de Êxodo 33 saltam em todo o Novo Testamento. A primeira carta aos tessalonicenses, reconhecida por muitos como o primeiro escrito cristão que sobreviveu, oferece outro lembrete de que o chamado básico do evangelho é adorar ao Deus verdadeiro em vez dos ídolos.

Aos ouvidos pagãos, a mensagem de Paulo teria soado profundamente judaica. Existe um Deus, o criador. Os ídolos feitos pelo homem são mentiras e delírios. O verdadeiro Deus é vivo e vivificador; ídolos, sem vida, não podem dar vida. Mas a mensagem de Paulo foi mais longe. Desde o Êxodo, os judeus acreditavam que ninguém podia ver Deus face a face e viver. Paulo acreditava que o verdadeiro Deus tinha sido conhecido pessoalmente e como Jesus de Nazaré, a soma do destino de Israel, o Messias.

Os tessalonicenses se tornaram imitadores de Deus, imitadores de Cristo, imitadores de Paulo (1.6–8). Confunde nossas mentes pensar que até a chegada de Paulo, ninguém pensara em viver a ética cristã. Eles não acreditariam que fosse possível. Paulo tinha a modelado diante deles (1.5). Agora, para o seu deleite, eles próprios estavam modelando isso perante o mundo. Ansiosos por afirmar a presença de Deus em todo o mundo, não devemos esquecer o chamado a um comportamento distinto e às vezes chocante.

O novo estilo de vida dos tessalonicenses foi o resultado da obra do Espírito através da proclamação de Jesus como o ressuscitado, o juiz e libertador que está vindo (1.10; compare Atos 17.31). Isso foi tão inesperado e louco (as tentativas de mostrar que o mundo pagão estava entediado com suas próprias religiões e apenas esperava que algo como o cristianismo aparecesse estão condenadas ao fracasso) que, como bem sabia Paulo, sua recém-descoberta fé, esperança e amor (1.3) só poderiam ser o resultado da obra de Deus através do anúncio do evangelho. Eles tinham sido marcados como pessoas que adoravam e esperavam o verdadeiro filho do Deus verdadeiro, no mundo onde César exigia adoração, como filho de seu antecessor divino, e fidelidade política e econômica.

O choque entre César e o Deus verdadeiro ressurge na passagem enigmática do evangelho. O primeiro grande movimento messiânico dos dias de Jesus, o de Judas Galileu, foi uma revolta tributária. O movimento de Jesus era assim também? Os heróis Macabeus haviam sido exortados, ambiguamente, a “pagar aos gentios o que eles merecem — e guardar os mandamentos de Deus!” (1 Macabeus 2.68). As moedas romanas adicionaram insulto teológico a lesões políticas: elas carregavam uma imagem humana, ofensiva em si mesma, ainda mais quando a inscrição o declarava ser filho de um deus.

Jesus, no entanto, lidera mais do que uma mera revolta tributária. Dê o material sujo de volta a César que o merece, disse ele. As reivindicações absolutas de César são como nada perante a reivindicação abrangente do único Deus verdadeiro. Jesus, ele mesmo a Imagem divina, estava a caminho de simbolizar e encarnar, como apenas o único Filho poderia, o Deus cujo rosto é desvendado, não em exigências financeiras, mas em amor que se doa.

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