05/03/2012

Cheio de amor por seu semelhante




 Por Pastor Watchman Nee

O amor aos irmãos é um elemento essencial na vida de todo obreiro cristão, mas não menos essencial é o amor por toda a humanidade. Salomão escreveu: "O que escarnece do pobre insulta ao que o criou" (Provérbios 17.5). Deus é o Criador de todos os homens, e ninguém está apto para tornar-se servo Seu se aborrece ou despreza a qualquer deles. É verdade que o homem caiu, mas esse homem caído se tornou objeto do amor remidor; e o Senhor que redimiu o homem, Ele mesmo se tornou homem — um homem semelhante aos outros homens, que gradualmente cresceu da infância à plena maturidade. E quando Deus já contava com o Homem segundo o Seu desejo, na pessoa de Seu Filho, e O exal­tara à Sua mão direita, a Igreja foi trazida à existência, "o novo homem" em Cristo.


Quando chegamos a compreender realmente a Pa­lavra de Deus, então percebemos que a expressão "filhos de Deus" não se reveste de tanta significação quanto o termo "homem", e também percebemos que a escolha divina e a eleição divina tinham como seu objetivo um homem coletivamente glorificado. Quando percebemos o lugar que o homem ocupa nos propósitos de Deus; quando vemos o homem como o foco de todos os Seus pensamentos; quando contemplamos como o Senhor humilhou-se, a fim de tornar-se homem; então aprendemos a apreciar a humanidade inteira.
Estando nosso Senhor neste mundo, declarou : "Pois o próprio Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos" (Marcos 10.45). Ele não ensinou que o Filho de Deus veio a fim de ministrar aos homens; mas disse: "...o Filho do homem... veio..." Nessas palavras entrevemos a atitude do Senhor para com o homem.
Uma séria dificuldade, no caso de muitos dentre aqueles que estão engajados na obra cristã, é a sua falta de amor pelos homens, na sua falta de estima pelos homens, no fato de não perceberem o valor que o homem tem aos olhos de Deus. Sentimos hoje que já chegamos a excelsas alturas se começamos a amar aos filhos de Deus. Mas. será isso o suficiente? Não, por­quanto precisamos expandir-nos; precisamos entender que o nosso amor deve incluir a todos os homens; preci­samos compreender que todos os homens são preciosos para Deus. Sem dúvida vocês estão interessados por algumas poucas pessoas inteligentes, por alguns poucos que, de uma maneira ou de outra, são notáveis; mas o que quero saber não é se vocês estão interessados por homens extraordinários, e, sim, se estão interes­sados no HOMEM. Essa pergunta é importantíssima. A frase que diz "...o Filho do homem... veio..." implica, antes de tudo, no que o Senhor estava intensa­mente interessado no homem: estava tão interessado que Ele mesmo se fez homem. Até que ponto vocês estão interessados? Talvez pensem: "Bem, fulano não tem muita importância". Ou então: "Tal pessoa não representa grande coisa". Mas, como é que o Senhor considerou tais pessoas? Ele veio habitar entre os homens, na qualidade de Filho do homem. Dava um valor tal ao homem que se tornou homem, a fim de que pudesse servir ao homem da maneira mais perfeita possível. Trata-se de algo surpreendente, como também extremamente grave, que muitos dos filhos de Deus se preocupem tão pouco com os homens. Irmãos e irmãs, vocês compreendem o sentido desta frase, "...o Filho do homem ... veio ? " Ela significa que Cristo se importou com toda a humanidade. Que anormal estado de alma, se estamos interessados apenas por alguns poucos indivíduos seletos!
O interesse pela raça humana é um requisito básico em todo obreiro cristão, e não apenas o interesse por certo segmento da mesma. "Deus amou o mundo". Seu amor abarcou a todos os homens, e assim também deve ser o nosso amor. Não devemos limitar os nossos interesses aos Seus filhos, nem a qualquer outra classe particular de homens, mas devemos estender nosso amor a todos.
Anos de instrução nos têm acostumado a falar de certos homens como nossos "irmãos", e de todos os homens como nossos "semelhantes", e talvez tenha­mos começado a apreciar o fato que alguns homens são verdadeiramente nossos irmãos; porém, damos o devido valor a esse outro fato que todos os homens são nossos semelhantes? Infelizmente, muitos dos que se pro­fessam servos do Senhor, jamais abriram os seus corações para com todos os seus semelhantes. Se ao menos ficasse profundamente gravado em nós que Deus é nosso Criador, e que todos somos semelhantes uns dos outros, como tiraríamos proveito dos outros, enganando-os, acerca de qualquer coisa? Se, em nosso trato com os nossos semelhantes, buscamos os nossos próprios in­teresses, o nosso trabalho terá um valor bem limitado aos olhos de Deus, por maior que seja o seu volume externo.
"Pois o próprio Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos" (Marcos 10.45). "Porque o Filho do homem veio buscar e salvar o perdido" (Lucas 19.10). "Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância" (João 10.10). Foi por causa do homem que o Senhor Jesus veio a esta terra, e Ele veio com o propósito específico de servir aos homens. Foi seu avassalador interesse pelos homens que O trouxe do céu à terra, a fim de ministrar aos homens de tal maneira que derramou a Sua própria vida em resgate por eles. O poder motivador de Cristo era o Seu apaixonado amor pelos homens. Seu ministério em favor dos homens resultava de Seu amor por eles; e visto que o Seu amor não conhecia fronteiras, Ele pôde servi-los até chegar ao extremo da morte na cruz.
Se vocês procurarem pregar o evangelho aos per­didos, mas jamais se sentirem tocados pelas palavras "Deus criou o homem", e assim considerá-los seus próprios semelhantes; e se nunca jamais tiveram um interesse mais do que casual pelos homens; então não estão aptos para pregar a Cristo como "resgate por muitos". É mister que raie em nós o fato que Deus criou o homem à Sua semelhança e nele concentrou o Seu amor, visto que o homem é tão enormemente precioso para Ele. A menos que o homem se torne objeto de nossa afeição, é impossível que nos tornemos servos dos homens.
Muitos obreiros cristãos têm uma atitude comple­tamente errada para com os semelhantes. Consideram-nos um entrave, e algumas vezes se ofendem com os seus atos e não conseguem perdoá-los. Mas como podemos nós, em nós mesmos pecadores por natureza, hesitar em perdoar aos pecadores? Como podemos deixar de compreender as suas fraquezas e defeitos? E como podemos deixar de considerá-los queridos, quando reconhecemos o quanto são prezados pelo Senhor? Ele, o Bom Pastor, pode abandonar tudo e sair em busca de uma única ovelha perdida; o Espírito Santo pode procurar uma única moeda perdida; e o Pai pode sair a fim de dar as boas vindas ao Seu filho perdido. Na parábola que há no capítulo quinze de Lucas vemos como o amor divino pode desgastar-se livremente para redimir ao menos uma alma. E ainda podemos não entender a intensidade do amor de Deus pelo homem?
Irmãos e irmãs, à luz da profunda preocupação de Deus pelo homem, podem vocês ainda considerar com indiferença aos seus semelhantes? Seremos inúteis em Seu serviço a menos que os nossos corações sejam expandidos e que o nosso horizonte seja alargado. Precisamos ver o valor que o homem tem para Deus; precisamos perceber o lugar ocupado pelo homem no eterno propósito de Deus; compete-nos ver a signifi­cação da obra remidora de Cristo. Sem isso, é vão imaginar que débeis criaturas como vocês e eu possamos ter alguma participação na grandiosa obra de Deus. Como poderia alguém ser usado para salvar almas, se não tivesse amor pelas almas? Se ao menos esse defeito fundamental de nossa falta de amor aos homens pudesse ser solucionado, nossas muitas outras dificuldades em relação aos homens haveriam de desaparecer. Julgamos que algumas pessoas são por demais ignorantes, e pen­samos que outras são muito duras, mas esses problemas desaparecerão quando nosso problema básico de falta de amor aos homens houver sido resolvido. Quando deixarmos de estar em um pedestal e aprendermos a tomar o nosso lugar como homens entre os seus semelhantes, então nunca mais desdenharemos deles.
Alguns obreiros cristãos, criados em áreas urbanas, às vezes se internam pelo interior e, entre a gente simples do campo, adotam uma atitude de superioridade para com eles. Quão diferente é isso do Filho do Homem, o qual veio para ser servo de todos! Se vocês forem a algum lugar para pregar o evangelho, mas não forem na qualidade de filhos do homem, terão falhado em sua missão. Se vocês trabalham entre os outros reves­tidos de uma atitude de condescendência, não se en­ganem, confundindo a humildade de Cristo com a con­descendência. A condescendência consciente é uma humildade falsa; a humildade genuína não tem consci­ência de si mesma. Quando Cristo veio habitar entre os homens, veio como verdadeiro homem. Viveu como homem em meio aos seus semelhantes. Muitos obreiros cristãos, ao se movimentarem entre os seus semelhantes, deixam a impressão de que lhes estão prestando um favor ao se associarem com eles. Nossa conduta jamais deveria levar os outros a sentirem que somos diferentes deles. A menos que possamos ser filhos do homem entre os homens, não seremos nem verdadeiros servos do homem e nem verdadeiros servos de Deus. Os obreiros de Deus devem ser pessoas tão abnegadas que sejam inconscientemente humildes. Um homem ignorante e perdido não difere de vocês e de mim em qualquer outra coisa além disto, que nós estamos salvos, e que ele não o está. Mas ele tem um lugar no propósito criador de Deus, tal como vocês e eu temos; ele tem um lugar no propósito redentor de Deus, tal como vocês e eu temos; e ele tem a mesma potencialidade para Deus como vocês e eu temos.
Talvez cada um de vocês diga: A ignorância alheia não representa problema algum para mim; minha difi­culdade surge quando entro em contacto com pessoas de baixa moral ou acostumados a enganar aos outros. Qual deve ser a minha atitude para com tais pessoas? Vocês precisam apenas fazer um retrospecto em sua própria vida. Onde estavam vocês quando a graça de Deus os encontrou? E onde se encontrariam hoje, não fosse a graça de Deus? Se, em qualquer aspecto, vocês diferem deles, trata-se inteiramente de uma questão de Sua graça. Meditem no que a graça de Deus tem feito por vocês. Ao contemplarem a Sua graça, terão de prostrar-se perante Ele e reconhecer: "Por natureza sou tão pecaminoso quanto eles, mas sou um pecador salvo pela graça". A contemplação do que a graça de Deus tem feito por nós jamais nos exaltará; pelo contrário, sempre nos forçará a nos humilharmos perante Ele. Se vocês são diferentes dos outros, "pois quem é que te faz sobressair? e que tens tu que não tenhas rece­bido? e, se o recebeste, por que te vanglorias, como se o não tiveras recebido? " A visão do pecado certa­mente deve levar-nos a retroceder, mas, apesar disso, devemos estender o nosso amor aos pecadores.
Se, por um lado, a nossa atenção se fixa no fato que todo servo de Deus tem a sua própria função especial, não nos devemos olvidar, por outro lado, que, por mais diferentes que possam ser as suas funções, todos os mais autênticos servos de Deus se assemelham em um ponto particular, a saber, que se interessam profundamente pelos homens. Se vocês não se sentem atraídos aos pecadores, mas antes, preferem evitá-los, que esperam poder realizar ao pregar-lhes o evangelho? Afastar-se-ia um médico de seus pacientes enfermos? Se buscamos aos perdidos por havermos compreendido o quanto eles são preciosos no conceito de Deus, ainda que seja uma só alma, então nos aproximaremos dos pecadores, não por compulsão do dever, mas sob o constrangimento de uma atração irresistível. Quando nos chegamos a eles com amor espontâneo, descobrimos que se terá aberto perante nós um ilimitado campo de serviço, e, pela misericórdia divina, nos tornaremos servos que Lhe são de alguma valia.
Oh! se pudéssemos ver cada ser humano como uma alma viva, dotada de imensas potencialidades! Quão diferentemente nos temos sentido para com os salvos, desde que compreendemos que somos "conci­dadãos dos santos"! E sentiremos diferença similar para com os perdidos quando a luz divina raiar sobre nós e, verdadeiramente, virmos cada um como nosso semelhante. Então lhes daremos valor e os amaremos, e entraremos em harmonia com o Senhor, nesse dese­jo de conquistá-los para Si mesmo, a fim de que eles sejam qual material de construção em Suas mãos, visando à edificação de Sua Igreja. Se vocês ou eu des­prezarmos qualquer alma humana, estaremos sendo indignos de permanecer no serviço do Filho do Homem, porquanto os Seus trabalhadores são servos dos homens que têm por motivo de alegria o poderem servi-Lo.

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