Texto
Helmut Renders - Teólogo e Pastor Metodista.
Em
John Wesley, coração e vida são os loci da santidade interior e exterior: “Esta
santidade interna e externa, esta conformidade tanto do coração como da vida
para com a sua vontade, deveria ser perfeitamente gradualmente.” Ou: “ A beleza
da santidade interior, daquela do ser humano do coração que é renovado segundo
a imagem de Deus...” Ou: “ O que você acha que santidade é? É pureza tanto do
coração como da vida. É a mente que estava em Cristo, capacitando-nos a andar
como ele andou. É amar ao próximo”. A Fé em Cristo não ignora a lei, mas leva a
produzir todos os tipos de santidade, de forma negativa e positiva, do coração
e da vida. Em outras palavras, a capacidade e a vontade de deixar o mal
(negativo) e fazer o bem (positivo) São desenvolvidas e amadurecidas.
No
sermão 76, Sobre a perfeição, John Wesley refere-se à sintonia entre coração e
vida como a justiça interior e exterior, que, de fato, aproximam justificação e
justiça.
Este
conceito duplo e transversal nas obras de Wesley enfatiza a coerência entre a experiência religiosa e a
práxis. À luz dessa experiência transversal na coerência entre convicção e
vida, as passagens que desafiam a religião exterior em favor da religião
interior devem ser interpretadas como acento na experiência e conhecimento da
primazia da graça.
A
mudança interna capacita para realização da justiça externa, a andar como
cristo andou, pela obra da fé, paciência da esperança e pelo trabalho do amor.
Enfim, todas as “coisas externas”, por exemplo “cerimonias e ritos”, sejam eles
excelentes, decentes, uma ajuda, ou mandado do próprio Deus não representam a
religião verdadeira, a qual consiste em misericórdia, humildade e
mansidão(justiça interior) e um zelo pelas obras que não quer machucar ou
entristecer ninguém e que usa qualquer oportunidade para fazer o bem(justiça
exterior). Aqui significa “coisas externas” a manutenção da forma sem vida,
enquanto a justiça interior e exterior são entendidas como dinâmica
complementar.
A
distinção entre obras de misericórdia e piedade, amplamente introduzida na
teologia anglicana, é transversal nas obras de Wesley. Raramente, ele
substituiu “obras de misericórdia” por “obras de caridade” talvez com base em
Willian Law que escreve “obras de necessidade” ou “obras de benevolência”. O
uso paralelo de atos e obras feito por Law, no seu Um chamado sério, não é
acompanhado por Wesley que mantem a firme relação entre devoção e ação, fazendo
dela o eixo fundamental das regras
gerais. Nelas, as obras de misericórdia compõem a primeira parte (deixar o mal
e fazer o bem), e as obras de piedade, segunda (observar as ordenanças de
Deus). Apesar disso, Wesley nunca estabeleceu uma única ordem entre as obras de
misericórdia e as de piedade; diferentemente, ele enfatiza sua vinculação: “o
amor a Deus leva naturalmente a obras de misericórdia; da mesma forma, o amor
ao próximo leva a obras de piedade. A falta de um impede a perfeição e o
crescimento na graça.”
Portanto,
o ser humano é uma unidade da qual fazem parte corpo, alma e mente. O fazer o
bem e deixar o mal das regras gerais tem um sentido mais amplo ou, talvez
melhor dizendo, mais integrado do que um envolvimento na sociedade humana em
favor da garantia da sua physis.
A
distinção entre obras de misericórdia e obras de piedade é a responsabilidade
da comunidade com a integridade das vidas dos outros e a vida da comunidade em
relação ao Deus vivo, usando os meios da graça estabelecidos por Ele.
John
Wesley rejeita a tradução da palavra grega ágape como caridade, pois limita o
sentido da palavra a um ato exterior de dar esmolas. Para Wesley o capitulo 13
de coríntios fala do amor da benevolência, de uma boa vontade, amorosa em favor
de cada vida criada por Deus, ou seja, uma atitude geral que estabelece
relações. Consequentemente, ele mantém isso na sua tradução do Novo Testamento
de 1790, enquanto a versão King James continuou privilegiando o termo caridade.
Esta
escolha não pretendia reduzir a pratica ao mero sentimento de amor ou
substituí-lo por uma boa intenção. Isso é um problema depois do século XVlll.
Tal situação torna mais clara pelo uso paralelo que John Wesley faz dos termos
Obra s de misericórdia e obras de piedade, amor ao próximo e a Deus e santidade
interna e externa. O que esta em jogo
para ele, é que o amor ao próximo não deve ser reduzido à mera ação
exteriorizada, sem atingir o ser humano na sua totalidade. Justiça por exemplo,
sempre precisa da misericórdia, porque nenhuma lei abrange todos os aspectos da
vida. Mas isso só é possível quando os agentes da fé atuam com compaixão verdadeira,
vinculados a fonte mais duradoura e forte desta atitude em relação ao outro – O
amor de Deus.
A
insistência na insolúvel relação do duplo mandamento do amor origina-se na convicção de que relações
mútuas de cuidado devem ser criadas para
proporcionar o real crescimento e maturidade na fé como caminhada cristã. Assim
na sua carta sobre a proclamação de Cristo, Wesley sintetiza a sua doutrina
como proclamar o evangelho e pregar a lei, e esclarece que a lei pode ser
resumida pelo sermão do monte. As duas ênfases promovem a santidade do coração
e da vida.
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