Por Rev. Eduardo Conde Almeida - Igreja Metodista do Brasil
O modelo da Igreja ou comunidade cristã que a Bíblia nos
apresenta é o de uma Igreja ou comunidade carismática. No contexto bíblico, o
que significa ser Igreja, comunidade de fé, carismática? Em primeiro lugar há
que definir claramente o significado desta palavra, que no nosso contexto
atual, vem sendo objeto de desvalorização e deturpação.
Uma Igreja carismática, é uma Igreja viva que enfatiza e
acolhe os dons da graça como uma dádiva divina, que ao serviço da Igreja a
fortalece e a edifica. Carisma é a palavra grega que significa dom da graça,
fruto de um amor espontâneo, gracioso de Deus, pelo que a palavra carismático
enfatiza aquele ou aqueles que vivem a manifestação dos dons pelo poder do Espírito.
Podemos assim dizer, que uma comunidade de fé, independentemente
da sua origem e história, só pode estar ao serviço de Deus, se a mesma for carismática,
aberta, receptora e obediente aos dons da graça, provenientes do Espírito. Não
é carismático aquele que levanta as mãos para o céu em adoração ou repete sem
cessar, palavras de exaltação. Podemos fazer todas essas coisas se o
desejarmos. Deus quer que sejamos livres na nossa adoração e não forçados a
adorá-lo num estilo particular e redutor. A forma como adoramos Deus ou
exteriorizamos a nossa relação com Ele, não faz de nós carismáticos nem nos
torna numa comunidade carismática.
Somos carismáticos quando, no uso da nossa liberdade e
razão, nos abrimos ao poder do Espírito Santo, e em obediência e serviço
valorizamos os dons que o mesmo nos dá.
Algumas pessoas supõem que a finalidade do Espírito
é dar-nos alegria e paz interiores e preparar-nos para o céu. Outras supõem que
a principal função da graça de Deus é afetar a nossa conduta ética de modo a
que nos tornemos reformadores sociais."
Uma comunidade carismática é uma comunidade de homens e
mulheres que vivem o poder do Espírito Santo como fonte de renovação interior e
exterior. "Wesley tinha um entendimento correto ao insistir na santidade
interior que leva à santidade exterior (ação). Ele estava interessado em ganhar
as pessoas para Jesus Cristo unindo-as em pequenos grupos de mútuo apoio
espiritual. Mas ele também as desafiou a mudar as situações em que estas
viviam."
Esta é a verdadeira dimensão carismática da Igreja; ela
manifesta-se pela interiorização dos dons do Espírito, como dádivas Divinas,
que explodem em nós em sinais de santidade para com a Igreja, edificando-a, e
para com a sociedade, transformando-a.
Somente pelo reconhecimento
e aceitação dos dons do Espírito, e na obediência ao propósito de cada um podemos
entender a oração do nosso Senhor: "Venha o Teu Reino, faça-se a Tua
vontade assim na Terra como no Céu."
Diante do exposto, será que podemos considerar a nossa
Igreja, como uma comunidade carismática? Ela será carismática se: for uma
comunidade aberta à ação do Espírito Santo, onde todos possamos formar um só corpo.
Esta unidade não deve ser apenas orgânica, mas uma unidade
espiritual que exija um compromisso moral de todos perante aquele que nos
chama, de forma a que seja visível nas nossas vidas as palavras de Paulo:
"Assim se, alguém está em Cristo, nova criatura é: as coisas velhas já
passaram; e eis que tudo se fez novo." No dizer do povo "a união faz
a força.
Se for uma
comunidade cuja abertura ao Espírito gere sinais de vitalidade. Estes sinais
são: A Oração - que deve acompanhar os passos de qualquer comunidade na missão
para que o anuncio da Palavra se torne eficaz pela graça. O Estudo - que desde
cedo, a partir das escolas dominicais, deve estar sempre presente na preparação
daqueles que querem exercer o seu ministério. A Igreja, no silêncio, na escuta
e acolhimento da Palavra de Deus,
deixa-se ensinar, formar e desafiar pelo Espírito, que fala através das Escrituras.
A rentabilização
dos Dons - Todo e qualquer membro é portador, pela manifestação do Espírito, de
dons, pelo que, "membro que não contribui segundo a sua capacidade para o aumento
do corpo deve considerar-se inútil para a Igreja e para si próprio." A missão - a capacidade e o compromisso de ir
ao encontro do outro, através da ação do Espírito Santo. Importa voltar ao fogo
das origens e, como os cristãos dos Atos, reavivar a consciência de que o
Espírito é quem move a Igreja. Foi o Espírito que impeliu Filipe a ir ao
encontro do Etíope, e que impeliu Pedro a ir a casa do centurião Cornélio; Foi
o mesmo Espírito que guiou Paulo e Barnabé na missão entre os pagãos. Também
hoje é o Espírito que nos aponta o caminho que conduz aos homens e as mulheres
do nosso tempo. Ele protagoniza a missão, abre os corações à Boa Nova. Dá-nos força
para sermos testemunhas no meio das dificuldades. Sem o Espírito Santo, Deus
está longe; Cristo permanece no passado; o Evangelho é letra morta; a Igreja,
uma simples organização; a autoridade, despotismo; a missão, propaganda; o
culto, uma evocação; e a vida cristã, uma moral de escravos.
Mas, no Espírito Santo e em permanente comunhão com Ele,
o cosmos fica elevado e geme na gestação do Reino; o homem luta contra a
"carne"; Cristo ressuscitado está presente; o Evangelho é poder e
vida; a Igreja é ícone da comunhão trinitária; a autoridade, um serviço
libertador; a missão, um novo Pentecostes; a liturgia, memorial e antecipação;
e toda a vida cristã fica deificada.
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