Helmut Renders é pastor e teólogo Metodista.
Para superar uma possível vinculação da metáfora do
“parent” a uma contínua infantilização da relação Deus-ser humano, sugere
William Barry, mestre inaciano de espiritualidade, a não partir do imaginário
da relação entre pais e crianças pequenas, mas entre pais e crianças crescidas.
Assim, não se prescreve simbolicamente falando da infantilização da relação
divino-humano, mas projeta-se um
relacionamento emancipado e autônomo, livre e, assim também, responsável.
Acrescemos: é a águia parent que ensina a voar (Dt 32.11) e não ficar no ninho,
e o Deus parent que ensina a andar (Os 11.3-4) em vez de ficar no colo.
Isso não quer
dizer que certos elementos da relação entre uma criança e seus pais não possam
ser correspondentes com a relação entre a humanidade e Deus. Assim, preservado
pela memória da igreja, Jesus relaciona criança de peito com “o perfeito
louvor” (Mt 21.15-16), designa crianças como merecedores do Reino(19.12-1420)
ou as apresenta para os adultos como exemplo de humildade (assim Mt 18.4,
relendo Mc 10.15, preservado em Lc 18.17). Essa valorização da primeira fase do
desenvolvimento humano jamais impede a construção de analogias entre outras
fases da vida e da vida cristã. Pelo contrário, uma mera permanência num estado
infantil é considerada contra produtiva: “Irmãos,
não sejais meninos no entendimento, mas sede meninos na malícia, e adultos no
entendimento” (1Co 14.20) (grifos do autor). Todos os conceitos do
colaborador ou da colaboradora de Deus (1Co 3.9; Fp 2.25; Fm 1.24; Rm 16.9), do
evangelho (1Ts 3.2) ou do reino (Cl 4.11) baseiam-se numa compreensão adulta da
relação humano-divina e num comportamento adulto em relação a Deus. Não parece
ser sempre perceptível o fato de que a metáfora do retorno ao primeiro amor
também tenha seu contexto no mundo adulto, não apenas no mundo infantil. O
retorno ao primeiro amor não é o retorno ao ventre de Deus, mas
refortalecimento e reconsideração do compromisso da imatio Christi.
Sendo assim,
propomos que se deve permanentemente adequar o imaginário bíblico à respectiva
idade de uma pessoa, para motivá-la a assumir de forma crescente e, cada vez
mais abrangente, seu espaço na comunidade cristã e na divulgação e sinalização
do reino de Deus.
O alvo de todas as
idades é, entretanto, o crescimento na direção da maturidade cristã, e isso
requer entendimento, liberdade, responsabilidade e compromisso conscientes. O
conceito de maturidade cristã comunica-se bem com Lc 15 e, por sua vez, com Oseías
11.
Quando o filho pede a sua herança, ele começa a sua
emancipação. A experiência não é bem-sucedida, mas rende o que, muitas vezes,
as experiências difíceis da vida acabam fornecendo: o amadurecimento. Assim,
ele retorna como adulto, que se mostra, em primeiro lugar, na sua capacidade de
assumir positivamente o seu fracasso e a sua responsabilidade. Ele não culpa
terceiros, seja pelo maltrato recebido, seja pelo abandono sofrido, seja na
intenção de responsabilizar o pai por meio de uma projeção infantil. É
justamente nessa condição que ele não somente será acolhido, mas recebe agora
os signos da vida adulta: o anel e as sandálias. O pai perdeu um filho que
atuava como uma criança e ganhou um filho adulto. O filho-criança da casa, de
fato mais velho do que aquele que saiu, não consegue entender isso por não ter
completado a sua iniciação pessoal na idade e no mundo adulto, apesar de tudo
estar ao seu alcance. O Deus parent não impede uma projeção do filho adulto, ou
da filha adulta, de uma relação participativa, que leva, de
fato, à colaboração na Missio Dei, da colaboração responsável no cuidado para
com a casa de Deus. O Deus parent combina com um modelo de relacionamento
divino-humano, que leva, pela liberdade, pela acolhida, pelo empoderamento, à
colaboração na Missio Dei.
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