Por pastor metodista Edmar Leonardo da Silva
O episódio da transfiguração acontece num alto monte onde Jesus transfigurou-se juntamente com Moisés e Elias. Deus, o Pai, de maneira invisível, “transfigurou” seu Filho, Jesus. O seu rosto e suas roupas radiantes mostram que Jesus pertence ao mundo celeste, ao mundo divino, ao mundo dos justos (Mt 13,43), ao mundo da luz (cf. Mt 28,3).
A transfiguração acontece em um “alto monte”. Este monte simboliza o lugar de encontro do céu e da terra, lugar privilegiado para a revelação de Deus e a oração dos homens. Recorda igualmente a revelação de Deus no Sinai (cf. Ex 19-20). O monte, por ser um ponto elevado, sempre foi considerado em todas as antigas religiões como um símbolo da “subida” do homem até Deus e como o sinal da manifestação ou epifania de Deus. Deus se manifesta no alto e o homem deve subir até Deus, abandonando uma vida medíocre, focada em interesses pessoais, pois Deus está acima de nosso “Modus vivendi”. Por isso, para o homem, subir a monte significa superar-se, transcender-se, elevar-se além da rotina. É a transcendência que não será conseguida sem um lançar-se sem reservas, a Deus. A fé é o caminho da renúncia e da morte de nós mesmos para que Deus possa se manifestar através de nós e para que Ele possa nos transfigurar.
Somente com a morte de nosso “eu” é que Deus pode nos comunicar uma vida nova. Subir até Deus é um morrer de nossos projetos pessoais para dar lugar para os projetos de Deus. Certamente, nesta morte, é que Deus manifesta sua glória e sua eterna misericórdia.
Na transfiguração, Pedro se dirige a Jesus e o chama de “Senhor”. Pedro, diz de maneira educada “é bom estarmos aqui” e “se queres farei três tendas”. Isto diz ele, para atender às necessidades do Mestre, de Moisés e Elias. Pedro queria construir tendas para o trio transfigurado (Jesus, Moisés e Elias). A “tenda” pode ser uma alusão ao “lugar” onde Deus habita, já que os três estão transfigurados de forma gloriosa. Enquanto Pedro está falando, uma voz divina repete exatamente a revelação dita no batismo de Jesus (Mt 3,17): Jesus é o Filho amado, mas também o servo em quem o Pai põe todo seu agrado lembrando ao público a natureza e a autoridade de Jesus, seus atos e suas instruções
. A frase “a Ele ouvi” demonstra a autoridade de Jesus.
Quando os discípulos escutam a voz, eles “caem tomados de grande medo”. Jesus se aproxima dos discípulos para tocá-los dizendo-lhes: “erguei-vos!”. Erguer-se é uma linguagem de ressurreição. Guiados pela Palavra de Deus que devemos escutar, como manda a voz celeste, agora finalmente encontramos Cristo. Moisés e Elias (um modo de falar de todo o AT; Lei e Profetas era o modo como os judeus chamavam a Bíblia) já não estão mais presentes. Jesus está só. Agora não é mais o tempo da Lei e dos Profetas. Agora é com Jesus. Ele é quem pode explicar, através da sua palavra e ação, a vontade Deus. Por isso, o Pai quer que escutemos seu Filho amado, Jesus Cristo, pois só Ele pode ensinar tudo o que Deus quer. Este é o segredo para chegarmos ao fim desejado: a comunhão plena com Deus, como antecipou Jesus na transfiguração.
A transfiguração de Jesus é a resposta de Deus para os discípulos, desanimados diante do anúncio de sua paixão e morte. Deus quer mostrar-lhes antecipadamente, ainda que seja só num momento rápido, a glória de Jesus Cristo e a glória futura dos que vivem fielmente segundo a vontade de Deus, ainda que tenham que atravessar o caminho de sofrimento. Através da transfiguração de Jesus, Deus quer nos dizer que a vida plena e definitiva espera, no final do caminho, todos aqueles que, como Jesus, forem capazes de colocar a sua vida ao serviço dos irmãos.
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