Por Reverendo John Wesley
(Do livro Teologia de John Wesley)
Apresentam-se então o livre arbítrio de um
lado e a condenação
do outro. Vejamos qual é o plano mais
defensável, se o absurdo
do livre arbítrio, como alguém pensa ser, ou
se o outro com o absurdo
da condenação. Se for do agrado do Pai das
luzes abrir os olhos
do nosso entendimento, vejamos qual destes
contribui mais para a
glória de Deus, para a manifestação dos seus
gloriosos atributos, da
sua sabedoria, justiça e misericórdia aos
filhos dos homens.
Primeiramente a sua sabedoria. Se o homem
for até certo ponto
livre, se pela "luz que alumia a todo
aquele que vem ao mundo"
lhe forem postos diante de si a vida e a
morte, o bem e o mal, então
quão gloriosamente aparece a multiforme
sabedoria de Deus em toda
a economia da salvação do homem! Querendo-se
que todos os homens
sejam salvos, mas não se querendo forçá-los
a isso, querendo-se
que todos os homens sejam salvos, mas não
como árvores ou pedras,
mas como homens, como criaturas
inteligentes, dotadas de entendimento
para discernir o que é bom e de liberdade
para aceitá-lo
ou recusá-lo, o esquema de todas as suas
dispensações vai bem com
este seu ôrothesis seu plano, "o
conselho da vontade"! O seu primeiro
passo é feito no sentido de iluminar
o entendimento pelo conhecimento
geral do bem e do mal. O Senhor acrescenta a
isto muitas
convicções internas as quais não há um homem
sobre a terra que
não as tenha sentido freqüentemente. Outras
vezes Ele, com delicadeza,
move a nossa vontade, nos impulsiona a andar
na luz. Instilanos
no coração bons desejos, embora talvez não
saibamos de onde
vêm. Ele procede desse modo com todos os
filhos dos homens mesmo
aqueles que não têm conhecimento da sua
palavra escrita. Mas
supondo-se que o homem é, até certo
ponto, um agente livre, que
arranjo de sabedoria é organizado! Como cada
parte deste plano convém
a este fim! Salvar o homem como homem.
Colocarem-se a vida
e a morte perante ele e então, sem o forçar,
persuadi-lo a escolher a
vida...
Chegamos à sua justiça. Se o homem é capaz
de escolher entre
o bem e o mal, ele se torna um objeto
próprio da justiça de Deus que
o absolve ou o condena, que o recompensa ou
pune. Mas se ele não
é, não se torna objeto daquela. Uma simples
máquina não capaz de
ser absolvida nem condenada. A justiça não
pode punir uma pedra
por cair ao chão, nem, no nosso plano, um
homem por cair no pecado,
ele não pode senti-la mais do que a pedra,
se ele está, de antemão,
condenado... Será este homem sentenciado a
ir para o fogo eterno preparado
para o diabo e os seus anjos por não fazer o
que ele nunca foi
capaz de evitar? "Sim, porque é a
soberana vontade de Deus". "Então,
ou temos achado um novo Deus ou temos feito
um"! Este não é o Deus
dos cristãos. Nosso Deus é justo em todos os
seus procedimentos; não
ceifa onde não semeou. Ele requer apenas, de
acordo com o que Ele deu,
e onde ele deu
pouco, pouco será pedido. A glória da sua justiça está em
recompensar a cada um segundo as suas obras.
Aqui se mostra aquele
glorioso atributo evidentemente manifesto
aos homens e aos anjos de
que se aceita de cada um segundo o que ele
tem e não segundo o que ele
não tem. Este é aquele justo decreto que não
pode passar quer no tempo
quer na eternidade...
Assim Ele gloriosamente distribui o seu
amor, supondo-se que
esse amor recaia em uma dentre dez de suas
criaturas, (não podia eu
dizer uma dentre cem?), e não se importe com
as restantes, que as
noventa e nove condenadas pereçam sem
misericórdia ; é suficiente
para Ele amar e salvar a única eleita. Mas
por que tem misericórdia
apenas desta e deixa todas aquelas para a
inevitável destruição? "Ele
o faz porque o quer" Ah!, que Deus
concedesse sabedoria submissa
àqueles que assim falam! Pergunto: qual
seria o pronunciamento da
humanidade a respeito de um homem que
procedesse desse modo?
A respeito daquele que, sendo capaz de
livrar milhões da morte apenas
com um sopro de sua boca, se recusasse a
salvar mais do que um
dentre cem e dissesse: "Eu não faço
porque não o quero"? Como
exaltarmos a misericórdia de Deus se lhe
atribuímos tal procedimento?
Que estranho comentário é aquele da
sua própria palavra: "A
sua misericórdia é sobre toda a sua
obra!"...
A soberania de Deus aparece: 1) Em fixando
desde a eternidade
aquele decreto sobre os filhos dos homens de
que "aquele
que crer será salvo" e o "que não
crer será condenado". 2) Em
todas as circunstâncias gerais da criação,
no tempo, lugar, no
modo de criar todas as coisas, em nomear o
número e as espécies
das criaturas visíveis e invisíveis. 3) Em
conceder talentos naturais
aos homens, a estes e aqueles.
4) Na disposição
do tempo, do lugar e das outras
circunstâncias exteriores tais como
pais e amigos atendendo ao nascimento de
cada um. 5) Na dis
pensação dos vários dons do seu Espírito
para a edificação da
sua Igreja. 6) Na ordenação de todas as
coisas temporais tais como
a saúde, a fortuna, os amigos, todas as
coisas que carecem de eternidade.
Mas é claro que, na disposição do
estado eterno dos homens,
não somente a soberania, mas a justiça, a
misericórdia e a
verdade mantêm as rédeas. O governador do
céu e da terra, o Eu
Sou, sobretudo o Deus bendito para sempre,
com aquelas qualidades,
dirige e prepara o caminho diante da sua
face.
Obras: "A
predestinação calmamente considerada", 50-54
(X,232-36).
***
O Deus Todo-Poderoso e onisciente vê e
conhece, de eternidade
a eternidade, tudo que é, que era e
que há de ser, através de um
eterno agora. Para Ele não há passado nem
futuro, mas todas as coisas
são igualmente presentes. Portanto, se
falarmos de acordo com a
verdade das coisas, Ele não tem
pré-conhecimento nem pós-conhecimento...
No entanto, quando nos fala, sabendo de onde
fomos feitos
e a escassez do nosso entendimento, Ele
desce até a nossa capacidade
e fala de si mesmo à maneira dos homens.
Desse modo, em
condescendência à nossa fraqueza, fala de
seu propósito, de seu conselho,
plano e pré-conhecimento. Não que Deus tenha
necessidade
de conselho e de objetivos ou de planejar de
antemão o seu trabalho.
Longe de nós esteja o imputar tais coisas ao
Altíssimo; de medilo
por nós mesmos! É simplesmente por compaixão
de nós que Ele
assim fala de si mesmo, como conhecendo de
antemão as coisas no
céu e na terra, e predestinando-as ou
preordenando-as.
Sermões:
"Sobre a predestinação", 15 (J, VI, 230).
***
Se existe a eleição, toda a pregação é vã. É
desnecessária aos
que são eleitos, pois, com ela ou sem ela
eles serão infalivelmente
salvos. Portanto, o fim da pregação - salvar
as almas - é destituído
de sentido em relação a eles; e é
inútil àqueles que não são eleitos,
pois, possivelmente, não poderão ser salvos.
Estes, quer com a pregação
ou sem ela, serão infalivelmente
condenados...
Portanto é esta uma prova simples de que a
doutrina da
predestinação não é uma doutrina de
Deus, porque torna desnecessária
a ordenança de Deus, e Deus não está
dividido contra si mesmo.
Em segundo lugar, ela tende a destruir
diretamente a santidade
que é o fim de todas as ordenanças de Deus.
Eu não digo que aqueles
que não a aceitam são santos, pois
Deus exerce terna misericórdia
para com aqueles que estão inevitavelmente
presos a qualquer
homens de erros, mas que a doutrina em si mesma
de que todos os
homens são, desde a eternidade, eleitos ou não,
e de que uns têm de
ser inevitavelmente salvos e outros
inevitavelmente condenados, tem
uma tendência manifesta de destruir a
santidade em geral porque
tira inteiramente os primeiros motivos de
nós a seguirmos: a esperança
de recompensa futura e o temor do castigo, a
esperança do céu
e o temor do inferno....
Em terceiro lugar, esta doutrina tende a
destruir o conforto da
religião, a felicidade do cristianismo. Isto
é evidente a todos aqueles
que se crêem condenados ou que apenas
suspeitam ou temem sêlo.
Todas as grandes e preciosas
promessas estão perdidas para eles;
elas não lhes dão nenhum vislumbre de
conforto, pois eles não são
os eleitos de Deus; portanto, eles não têm
parte nelas. Essa é uma
barreira efetiva à sua possibilidade de
encontrar conforto e felicidade
mesmo na religião cujos caminhos devem ser
de alegria e de paz...
Em quarto lugar, essa doutrina incômoda
tende diretamente a
destruir o nosso zelo pelas boas obras. Ela
o faz primeiramente, de
acordo com o que foi observado
anteriormente, para com o nosso
amor para com a maior parte da humanidade,
especialmente os maus
e os ingratos, pois tudo o que diminui o
nosso amor tem que diminuir
ainda mais nosso desejo de lhes fazer bem.
Ela o faz destruindo
um dos motivos mais fortes de todos os atos
da misericórdia corporal
tais como dar de comer aos que têm fome,
vestir os nus, etc, e
a esperança de salvar-lhes a alma. Pois que
adianta suprir as necessidades
temporais daqueles que estão se mergulhando
no fogo do
inferno?...
Em quinto lugar, essa doutrina não só tende
a destruir a santidade
cristã, a felicidade e as boas obras, mas
tem, também, uma
tendência direta e manifesta de subverter
toda a revelação cristã. O
ponto que os mais sábios não crentes
modernos procuram muito
striosamente provar é que a revelação
cristã não é necessária.
Eles sabem bem que, se uma vez pudessem
mostrar que "se a revelação
não sendo necessária não é verdadeira",
a conclusão seria muito
simples para ser negada. Mas abandonemos este
ponto fundamental e façamos a suposição de que aquele
decreto eterno e imutável
deve salvar uma parte da humanidade e
condenar a outra, mesmo
antes de existir a revelação cristã e apesar
desta, que mais desejaria
o infiel? Estamos concedendo-lhe tudo o que ele
pede. Desse modo
abandonamos toda a causa cristã, tornando o
evangelho desnecessário
a toda sorte de homens. "Oh! não digas
isso em Gade! Não publiques
isto nas ruas de Ascalom! para que as filhas
dos incircuncisos
se regozijem", para que os filhos dos
infiéis triunfem!
Visto que essa doutrina tende manifesta e
diretamente a subverter
toda a revelação cristã, ela, também, por
simples conseqüência,
faz a revelação contradizer-se. Essa
interpretação baseada em
alguns textos (mais numeroso ou menos, não
importa) contradiz
taxativamente a todos os outros textos e
realmente a todo escopo e
teor das Escrituras...
Em sétimo lugar, é uma doutrina cheia de
blasfêmia, de tal
blasfêmia que temo mencionar, mas que a
honra de nosso gracioso
Deus e a causa de sua verdade não me permitem
calar-me. Assim,
por amor à causa de Deus e por uma sincera
preocupação pela glória
do seu grande nome, mencionarei algumas das
horríveis blasfêmias
contidas nessa terrível doutrina...
Essa doutrina apresenta nosso bendito Senhor
Jesus Cristo - o
Justo, o unigênito Filho do Pai, cheio de
graça e verdade, como um
hipócrita, um enganador do povo, um homem
destituído da sinceridade
comum, pois, não pode ser negado que Ele por
toda parte fala
como querendo que todos os homens sejam
salvos. Portanto, dizer
que Ele não queria que todos os homens
fossem salvos, é
representá-lo como mero hipócrita e
embusteiro...
O pensar em tal blasfêmia faz tinir os
ouvidos de um cristão!
Mas ainda há mais, pois, assim como essa
doutrina honra o Filho,
ela honra o Pai. Ela destrói todos os seus
atributos imediatamente;
ela subverte a sua justiça, a misericórdia e
a verdade; sim, ela representa
o mais santo Deus como pior do que o
demônio, mais falso,
mais cruel e mais injusto. Mais falso porque
o demônio, mentiroso
como é, nunca disse: "Ele quer que
todos os homens sejam salvos",
mais injusto porque o diabo não pode ser
culpado da injustiça que
se atribui a Deus quando se diz que ele
condenou milhões de almas
ao fogo eterno, preparado para o diabo e
seus anjos, e que eles não
podem evitar por falta dessa graça que ele
não lhes quis dar; mais
cruel porque o espírito infeliz procura
descanso e não o encontra, de
modo que a sua inquieta miséria é uma
espécie de tentação para que
ele tente aos outros. Mas Deus permanece no
seu alto e santo lugar,
de modo que supô-lo por seu próprio
movimento, por sua pura
vontate e prazer, feliz como é, condenando
as suas criaturas, quer
elas queiram quer não, a uma miséria sem
fim, é imputar-lhe tal crueldade
que não podemos imputar mesmo ao maior
inimigo de Deus
e dos homens. É representar o altíssimo Deus
como mais cruel, mais
falso e mais injusto do que o diabo! Aquele
que tem ouvidos ouça.
Sermões: "A
Livre Graça", 10-11, 13, 18-20, 23-25 (J, VII, 376-383).
***
Ah! pobre predestinista! Se o Sr. é sincero
para com a sua doutrina
- a eleição, ela não pode confortá-lo! Pois,
quem sabe se o Sr.
não pertence ao número dos eleitos? Se não,
o Sr. também está no
sumidouro. Qual é a sua esperança? Onde está
o seu socorro? Deus
não representa socorro para o Sr. O seu
Deus! Não, ele não é seu,
nunca foi e nunca será. Ele que o fez, o
criou, não tem piedade do Sr.
Ele o fez para este fim: condená-lo; para
atirá-lo de cabeça para baixo
no lago que arde com fogo e enxofre! Este
foi preparado para o Sr.
desde que o mundo começou a existir! Para
este o Sr. está reservado
em cadeias de trevas até que o decreto se
cumpra, até que, de acordo
com a sua vontade eterna, imutável e
irresistível, o Sr. gema, uive
e se contorça nas ondas de fogo e diga
blasfêmias contra o seu desejo!
Ó Deus! até quando esta doutrina existirá!
Obras: "Um
pensamento sobre a necessidade", VI, 6 (X,480).
***
Creio que a eleição signifique comumente uma
destas duas coisas:
primeiro, um chamado divino para
determinados homens para que
realizem uma obra especial no mundo. Creio
que esta eleição não seja
pessoal, mas absoluta e incondicional. Deste
modo, Ciro foi eleito para
reconstruir o templo, S. Paulo e os doze
para pregarem o evangelho.
Mas não vejo nisto qualquer conexão
necessária com a felicidade. Certamente
não existe tal conexão, pois, aquele que é
eleito neste sentido
ainda poderá perder-se eternamente.
"Não vos escolhi (elegi) a vós os
doze?" disse o Senhor, "contudo um
de vós tem o demônio". Como vedes,
Judas foi eleito como os outros o foram,
contudo a sua parte está
com o demônio e os seus anjos.
Em segundo lugar, creio que esta eleição
signifique um chamado
divino a certos homens à felicidade eterna.
Mas creio que esta
eleição seja condicional tanto quanto a
condenação. Creio que o decreto
eterno concernente a ambas esteja expresso
nestas palavras:
"Aquele que crê será salvo, aquele que
não crê será condenado". Sem
dúvida, Deus não pode mudar e o homem não
pode resistir a este
decreto. De acordo com isto, todos os
verdadeiros crentes são chamados
eleitos nas Escrituras e os descrentes são
propriamente condenados,
isto é, não aprovados por Deus e sem
discernimento das
coisas espirituais.
Obras: "A
predestinação calmamente considerada", 16-17
(X,209-210).
***
2 comentários:
Muito bom Fabio,gostei.
Adriana Galanti
Muito bom! !!
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