02/11/2024

IMAGEM DE DEUS E NOVA CRIAÇÃO: TRAÇOS DE RESPONSABILIDADE ECOLÓGICA CRISTÃ NA TEOLOGIA DE JOHN WESLEY

 

Por: Adriani Milli Rodrigues.

Mestrando em Teologia (UNASP) e em Ciências da Religião (UMESP).

 

 

Com certeza os desafios ecológicos do século XXI são drasticamente diferentes, e intensamente mais complexos que os problemas ambientais figurados no cenário do século XVIII. Em outras palavras, o mundo em que John Wesley (1703-1791) viveu representava um contexto bastante distinto do panorama atual.

Evidentemente, a tentativa de “situar Wesley entre os ecologistas é, realmente, um “anacronismo”. Runyon, por exemplo, ressalta que “a ecologia não estava na ordem do dia nos tempos de Wesley”. Com efeito, o próprio termo “ecologia” foi forjado quase cem anos depois de Wesley: em 1886 o zoólogo alemão Ernst Haeckel cunhou o vocábulo alemão ökologie para se referir à relação dos seres vivos com o seu ambiente orgânico ou inorgânico.

O conceito de ecologia oriunda da raiz grega oikos - que significa casa, família, lar ou lugar para viver e alude, de forma geral, à inter-relação entre os organismos e seu ambiente.

Ademais, os terríveis efeitos da produção industrial vistos nos dias de hoje no meio ambiente eram estranhos para a sociedade britânica do século XVIII, que ainda estava experimentando os primórdios da Revolução Industrial. Os londrinos daquela época se queixavam “fortemente da fumaça causada por muitas lareiras a carvão”. Naturalmente, tal reclamação demonstra que eles não tinham idéia dos graves desdobramentos do desenvolvimento industrial do século XXI.

A análise comparativa dessas duas épocas parece contribuir para a conclusão de que o pensamento teológico de Wesley não possui muita relevância para a discussão acerca do tema da responsabilidade ecológica cristã na atualidade. Todavia, será que os questionamentos e reflexões formuladas por Wesley, que visavam primariamente atender as demandas de sua época, não constituem de algum modo uma plataforma teológica útil para pensar os problemas ambientais do século XXI numa perspectiva cristã? A despeito da grande diferença histórica, é possível perceber paralelos importantes entre o contexto dos tempos de Wesley e os desafios atuais?

Segundo a perspectiva adotada neste estudo, as respostas para essas perguntas são positivas, e concordam com Maddox, May e Runyon na afirmação de que o pensamento de John Wesley fornece fundamentos teológicos importantes para uma relevante discussão da temática da responsabilidade ambiental cristã no contexto da crise ecológica atual.

18/01/2023

Sou pastor.... não teólogo...


 

Por Pr. Dr. Metodista José Carlos de Souza

Não é raro escutarmos afirmações como essa que escolhemos como título para essa breve reflexão. Fortemente influenciados pela tradição antiintelectualista do avivalismo, costumamos desprezar qualquer esforço no sentido de elucidar a fé como totalmente inútil, quando não o denunciamos como perigosa especulação a nos desviar da herança uma vez entregue aos santos. Desta maneira, cultivamos um dualismo que põe em campos totalmente opostos o saber teológico e a prática pastoral. Preferimos nos apresentar mil vezes como homens e mulheres de ação, voltados, de corpo e alma, para o empenho missionário, do que como pessoas dedicadas ao estudo e à reflexão. Queremos, antes, ser reconhecidos por nossa piedade do que por nossa habilidade racional.

21/03/2022

Ide e fazei discípulos

 


Por Bispo Roberto Alves de Souza Igreja Metodista do Brasil

É na revelação do grande amor de Deus na Obra da Criação que nasce a missão de Deus de salvar o mundo, pois essa salvação é o imensurável fruto do seu grande amor por nós, criaturas criadas segundo a sua imagem e a sua semelhança. Nesse sentido, Jesus Cristo foi o primeiro e maior evangelizador que se revelou à humanidade. Grandes estudiosos/as da eclesiologia afirmam que são quatro os pilares de uma igreja missionária, vejamos:

(1)uma Igreja Missionária abandona o comodismo; (2) uma Igreja Missionária ouve a todas e todos; (3) uma Igreja Missionária tem suas portas sempre abertas para acolher a todas e todos; e, por último, (4) uma Igreja Missionária tem um só objetivo, ganhar vidas para Jesus Cristo.

 Analise esses quatro pilares e verá se sua comunidade local é uma Igreja Missionária. Em Mateus 28.18-20, nós observamos o maior de todos os evangelistas introduzir esses quatro pilares em sua IGREJA. Nesse texto, Jesus Cristo dá uma ordem: “Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado. E eis que estou convosco todos os dias até à consumação do século”.

16/10/2021

Alegrem-se os povos


John Piper é pastor na Igreja Batista em Minneapolis, Minnesota. USA

As missões não representam o alvo principal da igreja, a adoração sim. As missões existem porque não existe adoração, esta sim fundamental, pois Deus é essencial, e não o homem. Quando esta era se encerrar e os incontáveis milhões de redimidos estiverem perante o trono de Deus, não haverá mais missões. Elas representam, no momento, uma necessidade temporária, mas a adoração permanece para sempre.

A adoração é,  portanto, o combustível e a meta das missões porque nelas simplesmente procuramos levar as nações ao jubilo inflamado da glória de Deus. O objetivo das missões é a alegria dos povos na grandiosidade de Deus. "Reina o Senhor . Regozije-se a terra, alegrem-se as muitas ilhas" (Sl 97.1); "Louvem-te os povos, ó Deus; louvem-te os povos todos. Alegrem-se e exultem as gentes"  (Sl 67.3,4)

07/07/2021

Jesus (Amor que se doa)


Por Nicholas Thomas Wright
 ( Pastor Anglicano e prof. de Novo Testamento e cristianismo primitivo na Universidade de St. Andrews) 

 Os ecos múltiplos de Êxodo 33 saltam em todo o Novo Testamento. A primeira carta aos tessalonicenses, reconhecida por muitos como o primeiro escrito cristão que sobreviveu, oferece outro lembrete de que o chamado básico do evangelho é adorar ao Deus verdadeiro em vez dos ídolos.

Aos ouvidos pagãos, a mensagem de Paulo teria soado profundamente judaica. Existe um Deus, o criador. Os ídolos feitos pelo homem são mentiras e delírios. O verdadeiro Deus é vivo e vivificador; ídolos, sem vida, não podem dar vida. Mas a mensagem de Paulo foi mais longe. Desde o Êxodo, os judeus acreditavam que ninguém podia ver Deus face a face e viver. Paulo acreditava que o verdadeiro Deus tinha sido conhecido pessoalmente e como Jesus de Nazaré, a soma do destino de Israel, o Messias.

28/06/2021

A missão de paz e justiça.

 



René Padilla. É Teólogo e Missionário.


Tanto no Antigo Testamento como Novo, encontramos muitas referências à justiça de Deus. A declaração feita no Salmo 11.17 ocorre com frequência, especialmente nos livros proféticos e os livros poéticos: "O Senhor é justo, ele ama a justiça". Porque Deus é justo e ama a justiça, esta não é apenas uma convenção social ou um valor humano, mas um mandamento divino.

Como Abraham J. Heschel diz: “A justiça não é apenas a relação entre a pessoa e seu próximo; é um ato que envolve Deus, uma necessidade divina”. Ela está intimamente ligada à compaixão pelos oprimidos, os fracos, os marginalizados. É sobre a atitude de Deus para com os necessitados, os fracos, os deserdados, presa fácil da opressão dos poderosos. Ela é uma "opção pelos pobres".

Isso não significa, no entanto, que os tribunais de Israel, o povo de Deus, os juízes devem exercer favoritismo para beneficiar os pobres, e isso é tão importante como a obrigação de não exercer ou para favorecer o rico. De modo nenhum! O slogan é claro: "Não perverter a justiça ou mostrar parcialidade em favor dos pobres ou os ricos, mas julgar todos de forma justa" (Lv 19:15).

31/05/2021

Sobre atender ao serviço religioso



Por Reverendo John Wesley


"Era, pois, muito grande o pecado destes jovens perante o Senhor, porquanto os homens vieram a desprezar a oferta do Senhor". (I Samuel 2:17)

1. A corrupção, não apenas do mundo pagão, mas igualmente daqueles que eram chamados cristãos, tem sido motivo de tristeza e lamentação para os homens devotos, quase que deste o tempo dos Apóstolos. E conseqüentemente, já no século dois, centena de anos depois da remoção de João da terra, homens que estavam temerosos de serem parceiros dos pecados de outros, pensaram que seria sua obrigação separarem-se deles. Assim sendo, em todas as épocas, muitos têm se retirado do mundo, a fim de que eles não possam ser maculados com as contaminações dele. No século três, muitos levaram isto tão longe, de maneira a seguirem para os desertos e se tornarem ermitões. Mas, na era seguinte, isto tomou um outro rumo. Em vez de se tornarem ermitões, eles se tornaram monges. Os mosteiros agora começaram a ser construídos, em toda cidade cristã; e comunidades religiosas foram estabelecidas, tanto de homens quanto de mulheres, que ficavam inteiramente isolados do restante da humanidade; tendo nenhum intercurso com seus parentes mais próximos, nem com pessoa alguma, a não ser com os que estavam confinados, geralmente, para a vida toda, dentro dos mesmos muros.

06/04/2021

Sinais e maravilhas entre os metodistas

 


Por: Frank Bilmann, United Theological Seminary 

Neste trecho de seu livro, “O fio sobrenatural no metodismo: sinais e maravilhas entre os metodistas”, o historiador metodista Frank Billman revela como milagres e intervenções sobrenaturais foram difundidos nos ministérios de John Wesley e dos primeiros metodistas.

Cura milagrosa, caindo sob o poder, línguas … Isso é metodista?

Para alguns, essa é uma questão mais importante do que “É bíblico?” Ou “Já aconteceu antes na história da igreja?”

Randy Clark relata que quando vários professores do seminário Batista do Sul de evangelismo foram perguntados por telefone: “Qual foi o maior avivamento na história batista?” A resposta foi unânime: “O avivamento de Shantung na China”. Curas, quedas, risos no espírito, até mesmo a ressurreição dos mortos é registrada em The Shantung Revival , um livro de Mary Crawford, uma das missionárias batistas do sul que experimentaram este avivamento em primeira mão no início dos anos 1930. No livro, há relatos de quase tudo o que tem sido característico do Revival de Toronto e do Derramamento de Pensacola. Infelizmente, a maioria dos Batistas do Sul não está ciente do que aconteceu durante o seu maior avivamento. Vários anos atrás, o livro foi reimpresso com quase todos os fenômenos do Espírito Santo editados.

Mas os Batistas do Sul “higienizaram” sua história deste momento. Eles removeram relatos históricos que não são consistentes com sua teologia e práticas atuais. Alguns presbiterianos fizeram o mesmo quando se tratava de registrar a história do renascimento de Cambuslang. E alguns Metodistas fizeram o mesmo “saneamento” de nossa história ao remover muitos relatos do poder sobrenatural e manifestações do Espírito Santo se movendo entre os Metodistas.

10/03/2021

Graça, salvação e sustentabilidade.

 


Por Helmut Renders é pastor e teólogo Metodista. 
Do seu artigo da pg 228 a pg 232

Deus, segundo a teologia wesleyana, é criativo, inovador, gracioso e tem compaixão. Por isso afirma-se como atributo maior de Deus o seu amor incondicional que corresponde à graça universal. O Deus trino é amor em si, mas não mantém este amor para si: ele transborda no ato da criação e nos atos da salvação com nova criação. Encontros com Deus vivificam, convertem e capacitam. Eles libertam, justificam, orientam, responsabilizam, solidarizam e santificam. Novos caminhos são possíveis. A teologia wesleyana afirma a ação antecipadora, sustentadora e renovadora de Deus em toda a sua criação. Essas convicções se expressam numa forma específica de compreender a vida do ser humano, a vida no mundo inteiro e a vida além dos parâmetros da história. Nesta concepção, Cristo, além de ser rei, sacerdote e juiz, também é o grande médico. Nesta compreensão, o Espírito Santo é o grande facilitador e capacitador da resposta humana à ação divina. Tudo isso converge para a tradição cristã, para a compreensão da economia de Deus como a sua ação salvadora, sustentadora, libertadora, a renovadora e transformadora com Pai, Filho e Espírito Santo. Ela parte da obra renovadora divina e pode ser vista como uma renovação das condições da vida estabelecidas pelos seres humanos em meio à criação. Diríamos, em diálogo com Willis Jenkins, que o impacto da oikonomia tou theou, nas três esferas, introduz o dever de estabelecer “ecologias da graça” e, além disso, “economias da graça” e um “ecumenismo da graça”.

22/02/2021

Racismo: Abrindo os olhos para ver e o coração para acolher




Por Rev. Metodista José do Carmo da Silva – Mano Zé 

 O Colégio Episcopal da Igreja Metodista lançou em 2011 a Carta Pastoral: “Racismo: Abrindo os Olhos para ver e o coração para acolher”. O Documento foi celebrado por diversas organizações envolvidas na temática étnico-racial. Todavia, mesmo existindo um Documento Nacional que oriente as comunidades locais sobre as ações no enfrentamento do racismo o assunto é pouco abordado e a tal carta é praticamente desconhecida da grande maioria dos metodistas brasileiros. É fato que, RACISMO é assunto espinhoso e a maioria dos cristãos não quer abordá-lo, assim sendo, apesar do documento orientador, o espaço para falar sobre ele dentro da IM, e das demais igrejas evangélico/protestante é quase inexistente. A impressão que a cada dia se reforça como realidade é de que para muitos pastores e leigos metodistas, tal temática não é importante, e logo não mais será abordada. Bate-me um desanimo e tristeza profunda quando ouço falar ou leio artigos relatando que em outras Regiões metodistas, ministérios voltados para o trato de tal temática estão sendo descontinuados. Os motivos, segundo o que corre por ai, é que tal ministério não mais se encaixa dentro da atual proposta nacional de discipulado. E também pela dificuldade em encontrar pessoas dispostas a coordenar um ministério que traz um assunto que incomoda o povo brasileiro, o racismo.  Talvez você seja uma das pessoas que acredita não ser papel da Igreja Metodista se envolver no combate ao preconceito étnico/racial. Apresento três motivos pelos quais respeitosamente discordo de sua posição e com base nos quais creio que ela deve se envolver.

04/01/2021

Jesus Ressuscitou


 

James Martin Teólogo Metodista

(Trecho tirado de seu livro ressuscitou mesmo Jesus? pg 13 a 15)

 Em suas viagens missionárias, e como resultado de sua íntima relação com muitas igrejas, o Apóstolo Paulo teria escrito bom número de Cartas, tratando não apenas questões de fé, mas também da ordem eclesiástica, e da Doutrina Cristã. Algumas dessas Cartas não se perderam e fazem parte do cânon do Novo Testamento. Escritas dentro das quatro décadas que se seguiram à Morte e Ressurreição de Jesus, e debatendo às vezes material cuja origem data de tempo bem anterior àquele em que foram escritas, oferecem tais cartas precioso testemunho sobre o que a Igreja Primitiva cria acerca da Ressurreição. A passagem mais importante é a da Primeira Carta aos coríntios, capítulo 15, versículos de 3 a 8. Aí lemos: "Antes de tudo vos entreguei o que também recebi; que Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras, e que foi sepultado, e ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras, e apareceu a Cefas, e, depois, aos doze.

30/09/2020

As quatro armas da Igreja primitiva

 




Por Pastor Metodista Alexandre Brilhante


E perseveravam na doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas orações.”(At 2.42)

Quatro grandes armas caracterizam a igreja do tempo dos apóstolos e fizeram dela o modelo de igreja para todos os tempos. A primeira, a mensagem poderosa que pregava, a segunda, a comunhão, com a qual conseguiram formar a impressionante comunidade de fé. A terceira, a incrível capacidade de mobilização da igreja em promover a solidariedade e socorro aos menos favorecidos. E por última, a oração que, se traçarmos um paralelo com os exércitos modernos, diríamos que oração se assemelha muito com as comunicações, que no combate é tão importante quanto o poder de fogo. E, se fazemos parte do Exército de Cristo não podemos perder em momento algum a comunicação com o nosso Senhor que irá nos dar toda estratégia para o bom combate da fé. Com essas armas a igreja pôs abaixo as muralhas do judaísmo frio e hipócrita e do paganismo cruel e idólatra.